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sábado, 28 de março de 2015

A Nobreza do Ceará

Revisitando a história antiga de Fortaleza, nos deparamos com uma pequena parcela da população que se distinguia por ser detentora de títulos de nobreza: eram barões, viscondes, marqueses, todos poderosos e influentes na vida da cidade. Mas, quais os caminhos levavam a transformação de comerciantes, políticos, proprietários rurais, em nobres de sangue azul?  

 Casa do Barão de Studart, na antiga Rua Formosa, atual barão do Rio Branco 

 Mera formalidade que seria anotada pelo Juízo dos Feitos da Fazenda, com audiência do Procurador dos Feitos.

Antiga Igreja do Coração de Jesus em 1892. A Igreja foi construída com a ajuda de José Francisco da Silva Albano, o Barão de Aratanha 

Os títulos nobiliárquicos não eram hereditários, e os candidatos não poderiam apresentar em sua árvore genealógica nenhum dos impedimentos: bastardia, crime de lesa majestade, ofício mecânico ou sangue infecto. Eram cuidadosamente escolhidos por um conjunto de atos prestados e ascendência nobre familiar.

Na maioria das vezes o título era outorgado pelo Imperador, mas também havia os que eram concedidos pela Igreja (como o do Barão de Studart) e pelo governo português. Eram outorgados como se fossem por livre e espontânea iniciativa, em reconhecimento a serviços prestados, mas, na verdade, o agraciado normalmente despendia uma vultosa soma em dinheiro pela honraria.  
   
Sobrado de Joaquim da Cunha Freire, o Barão de Ibiapaba
 
 Segundo a tabela vigente no dia 2 de abril de 1860, para ser nobre, o custo em contos de réis era:

Duque: 2:450$000
Marquês: 2:020$000
Conde: 1:575$000
Visconde: 1:025$000
Barão: 750$000

Além desses valores, havia os seguintes custos:
Documentos para a petição: 366$000
Registro do brasão: 170$000

Apesar dos títulos serem pessoais e não hereditários, isto não impedia que as mulheres dos nobres os usassem no feminino: condessa, viscondessa, duquesa, baronesa. Na realidade, cerca de 2%  do total de mulheres portadoras de títulos nobiliárquicos foram elevadas à nobreza por relevantes serviços prestados à Casa Imperial, o mesmo tendo acontecido com muitas viúvas de nobres mortos, que foram promovidas de classe. 
Os brasões foram comuns sob o império e apareciam em louças, papéis, pratarias,  documentos e nas portas das mansões. A República pôs fim à era da nobreza no Brasil, e cancelou os títulos e brasões. 

  residência de Geminiano Maia, que foi condecorado com o título de Barão de Camocim 

Alguns dos Portadores de títulos de nobreza no Ceara


Barão de Studart - Guilherme Chambly Studart

  

Nascido em Fortaleza, em 5 de janeiro de 1856, falecido na mesma cidade em  25 de setembro de 1938. Foi médico, historiador e vice-cônsul do Reino Unido no Ceará. Filho de John William Studart, e Leonísia de Castro Studart. Católico militante dedicou-se à caridade e à filantropia. Como reconhecimento, recebeu o título de Barão da Santa Sé, concedido, em 1900, pelo Papa Leão XIII.


Barão de Aratanha - José Francisco da Silva Albano

Nasceu em Fortaleza, a 21 de maio de 1830 e faleceu nesta cidade em 13 de junho de 1901. Foi um rico comerciante e militar brasileiro, tendo sido coronel da Guarda Nacional. Ficou conhecido pelas obras de filantropia e por ter ajudada na construção da atual Igreja do Coração de Jesus, que durante muito tempo ficou conhecida como a Igreja dos Albanos.
Foi agraciado com o título de Barão de Aratanha em referência ao lugar de origem dos antepassados, conferido por Decreto Imperial de 3 de dezembro de 1887.


Barão de Aracati – João Pereira da Graça

Nascido em Aracati, 14 de março de 1812, falecido no Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1889. Foi um magistrado e político brasileiro. Exerceu o cargo de ministro do Supremo Tribunal de Justiça, órgão máximo do Poder Judiciário no Brasil Império.
Recebeu o título de Barão de Aracati, concedido pelo governo imperial em 19 de março de 1887, por relevantes serviços prestados à magistratura e ao Estado.


Barão da Ibiapaba – Joaquim da Cunha Freire


Nascido em Caucaia, 18 de outubro de 1827, e falecido no Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1907, filho do português Felisberto Correia da Cunha e de Custódia Ribeiro da Cunha, irmão do Severiano Ribeiro da Cunha, o Visconde do Cauípe.
Foi presidente da província do Ceará por sete vezes, coronel da Guarda Nacional e comendador da Imperial Ordem da Rosa. Titulo de Barão da Ibiapaba outorgado pelo Imperador, por Decreto de 17 de janeiro de 1874.


Barão de Camocim – Geminiano Maia

Natural de Aracati, nascido em 2 de fevereiro de 1847 e falecido em Fortaleza, 25 de fevereiro de 1916, destacou-se no comércio e nas obras de filantropia. Em 1881, foi nomeado cônsul da Bolívia e, em 1889, vice-cônsul da Rússia no Ceará. Filantropo, tem seu nome inscrito entre os dos protetores de vários estabelecimentos de caridade da antiga província. Foi agraciado por D. Carlos, Rei de Portugal, pelo decreto de 20.04.1893, com o título de barão de Camocim.


Visconde de Cauípe – Severiano Ribeiro da Cunha

Nasceu na localidade de Cauípe, junto ao município de Soure (atual Caucaia), filho dos portugueses Felisberto Correia da Cunha e de Custódia Ribeiro da Cunha, e irmão de Joaquim da Cunha Freire, futuro barão de Ibiapaba. Trabalhou arduamente pela Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, da qual foi vice-provedor por vários anos.
Em 1° de maio de 1873, foi agraciado pelo governo português com o título de Visconde de Cauípe, tomado de seu lugar de origem. Depois por decreto de 17 de abril de 1874, tornou-se comendador da Imperial Ordem da Rosa. Por Alvará de 12 de maio de 1874, foi nomeado Moço Fidalgo com exercício na Casa Real de Portugal. Foi também tenente-coronel da Guarda Nacional.

sites consultados:
http://www.casadoceara.org.br
wikipédia
https://books.google.com.br/

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Povoadores da Terra em Fortaleza


Povoadoras de extensos territórios, nos quais se levantariam vilas e cidades, os clãs constituíam-se de numerosas famílias coesas e ligadas a uma ancestralidade comum. Ramificações dos velhos troncos dos povoadores dessa terra, colonizadores dos antigos sertões, essa parentela formaria uma poderosa aristocracia latifundiária, conquistando posições de relevo na vida política da província. No segundo Reinado (1840-1889) nas primeiras décadas da república, gerações desses clãs se alternariam no poder, então disputado pelos Partidos Conservador e Liberal. 

 Rua Barão do Rio Branco, início do século XX

Ao atingir a supremacia política da província, Fortaleza – até esse tempo, um simples ajuntamento de pequenas casas – passou a abrigar os casarões residenciais. A partir de 1841, o Partido Conservador firmou-se em torno da família Carcará e de seu patriarca, o Visconde do Icó, Francisco Fernandes Vieira. Grande criador dos Inhamuns, dono de uma considerável extensão dos sertões, o Visconde tinha orgulho em dizer que “depois de Mombaça, só se pisava em terras suas até o Alto Jaguaribe”. Saíam anualmente destes vastos domínios, cinco mil bois para venda em Pernambuco. Seu filho, o senador Miguel Fernandes Vieira, presidiu o Partido Carcará até seu falecimento, em 1862. 

 Casa onde residiu o Barão de Aquiraz, na Praça do Ferreira, primeiro imóvel à direita. Na sequência, a Farmácia Pasteur e o Cineteatro Majestic-Palace. 

A partir daí, o partido dividiu-se em dois subgrupos. O chamado Miúdo foi continuador da velha legenda Carcará, chefiado pelo Barão de Aquiraz, Gonçalo Batista Vieira, sobrinho e genro do Visconde do Icó. O outro subgrupo, o Graúdo – a ala dissidente – ficou sob o comando do Visconde de Jaguaribe, Domingos José Nogueira Jaguaribe, e do Barão de Ibiapaba, Joaquim da Cunha Freire.
Homem de sociedade, sócio do Clube Cearense, o Barão de Aquiraz instalou sua residência no palacete que pertenceu a Martinho de Borges, que mais tarde abrigaria por muitos anos, a sede da empresa Severiano Ribeiro, na Praça do Ferreira. 

 Cidade de Aracati, terra natal do Visconde Jaguaribe

O Visconde de Jaguaribe, nascido em Aracati, casado com Clodes de Alencar, irmã de Ana Josefina e de Praxedes de Alencar, mulheres de seus primos Senador Alencar e Major Antônio da França Alencar. Jaguaribe ocupou posteriormente a Pasta da Guerra, no Ministério do Visconde do Rio Branco. 

 prédio que seria para o Asilo de Mendicidade e terminou servindo à Escola Militar, atual Colégio Militar de Fortaleza 

O Barão de Ibiapaba, natural de Caucaia, mandou construir o prédio onde funcionou o Asilo de Mendicidade, no qual funciona nos dias atuais o Colégio Militar de fortaleza. Residiu num casarão de 4 portas para a Rua Major Facundo e 11 para a Rua Senador Alencar e faleceu sem descendência em 1907.

 Sobrado do Barão de Ibiapaba, na esquina das ruas Major Facundo e Senador Alencar

O Partido Liberal este sob a direção do Senador Alencar até 1860. Ricos e de largo prestígio social, a família Alencar possuía verdadeiros feudos sertanejos nos rincões do Vale do Cariri, voltados à criação de gado, plantio da cana-de-açúcar e do algodão. Derrotados nas Revoluções de 1817 e 1824, a família foi perseguida politicamente, tendo seus bens confiscados. Fugindo de retaliações, o futuro Senador Alencar trouxe seus parentes para a Vila de Messejana – um dos mais salubres arrabaldes de Fortaleza – e em suas terras alagadiças, molhadas por um rio e uma dezena de lagoas, cultivou a cana-de-açúcar transportada do Cariri. 

Sítio Alagadiço Novo, em Messejana, onde se estabeleceu a família do Senador Alencar
  
Nas imediações da Vila, o Senador Alencar fundou o sítio Alagadiço Novo e, com os resultados positivos desta empresa açucareira, seus primos instalaram ali outros sítios de engenho: Cambeba, Carrapicho, São Francisco – em cujas terras estava a famosa lagoa de Messejana – Ancori, Gravito, Visgueiro, Janguruçu, Prismamuna, São Cristóvão e Tusculano.  Presidente da Província por duas vezes, o Senador Alencar residiu por muitos anos no Rio de Janeiro, exercendo sua liderança política.
Seu sucessor, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, tornou-se então, a maior autoridade deste Partido no Ceará. Pertencia o Senador Pompeu à ilustre dinastia  dos Pinto de Mesquita de Santa Quitéria, nos sertões do Ceará. Do clã de Santa Quitéria também fez parte por casamento, o Senador Francisco de Paula Pessoa, seu genro, o Conselheiro Rodrigues Júnior.  

Senador Francisco de Paula Pessoa, o "Senador dos Bois"
 
Dono de numerosas propriedades rurais, o Senador Paula Pessoa, por sua fortuna em gado, recebeu de seus adversários o apelido de “Senador dos Bois”. Com o falecimento do senador Pompeu em 1866, o Partido Liberal passou a ser chefiado pelo clã de santa Quitéria, tendo como presidentes Vicente Alves de Paula Pessoa e o Conselheiro Rodrigues Junior.
Esta facção foi a mais poderosa, de 1880 ate a proclamação da República, nela se destacando Meton de Alencar, João Cordeiro, João da Rocha Moreira e Francisco Barbosa de Paula Pessoa. A outra facção dos liberais ficou com o grupo Pompeu, liderado pelo genro do Senador Pompeu, o Comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly, contando entre os maiores representantes do partido, Thomaz Pompeu Filho, João Brígido, Joaquim Bento de Souza Andrade, João Lopes, Virgílio Brígido e Liberato Barroso.
Na República, a oligarquia aciolina dominou o Ceará por 16 anos, quando o Comendador Nogueira Accioly conservou em mãos a maior soma de poderes que um homem público jamais reunira no Norte. 


fonte:
Ideal Clube, História de uma Sociedade
de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do Arquivo Nirez