domingo, 8 de julho de 2012

Mercado da Aerolândia – o Gêmeo Pobre dos Pinhões


Mercado de Ferro da Praça Carolina, inaugurado no ano de 1897 (arquivo Nirez)

A estrutura de ferro do Mercado da Aerolândia é uma parte do equipamento inaugurado em Fortaleza no dia 18 de abril de 1897, na gestão do Intendente Guilherme Rocha, e do presidente Antônio Pinto Nogueira Accioly.  Seu primeiro endereço em Fortaleza foi a antiga Praça Carolina, atual Praça Waldemar Falcão, onde foi montado o Mercado da Carne.  O mercado era formado por dois galpões, unidos por uma passagem coberta, chamada de  avenida.


Mercado dos Pinhões, na Praça Visconde de Pelotas 

e sua outra metade, o Mercado da Aerolândia, um patrimônio de 115 anos largado no lixo!

Em 1938 a estrutura foi desmontada. Um dos seus dois pavilhões foi transferido para a Praça Visconde de Pelotas, onde funciona o Mercado dos Pinhões. O outro pavilhão foi para a Praça Paula Pessoa (Praça São Sebastião),  onde permaneceu algum tempo quando foi novamente desmontado e levado para a Aerolândia, às margens da BR-116.




Quando foi instalado no bairro, os 50 boxes do Mercado da Aerolândia vendiam frutas, legumes e verduras, além de cortes de carne, peixes frescos e miudezas em geral. O local, que tinha seus boxes disputados pelos permissionários. Com a deterioração do local, primeiro os clientes, depois os comerciantes foram gradativamente abandonando o espaço.  Promessas de restauração foram muitas, todas rigorosamente descumpridas. 



Segundo informações de vizinhos, ainda restam dois boxes funcionando no mercado da Aerolândia, uma lanchonete e uma lojinha de variedades.

A grande providência adotada pelo poder público municipal foi formalizar o tombamento do  imóvel como patrimônio histórico em 2008. Mas, de lá para cá, o restauro necessário do local ainda não foi feito. Moradores ouvem falar de um projeto de transformá-lo num espaço cultural e de pequenos negócios, a exemplo do que já foi feito com o irmão gêmeo rico, o Mercado dos Pinhões. Mas não há prazos e nada de concreto. 





Não só a fachada e o interior do Mercado da Aerolândia estão destruídos e abandonados, mas até a área de entorno sofre os efeitos do abandono do equipamento. O alardeado tombamento municipal, só existe na pretensão dos ineptos gestores do patrimônio público, porque na realidade, o tombamento do mercado da Aerolândia é físico e sinônimo do verbo desabar: grande parte da estrutura do teto já caiu, e os escombros jazem na frente do imóvel. 



Pouco importa para os ignorantes e incultos administradores da Fortaleza bela se esse equipamento é parte de um conjunto importado da França ainda no século XIX, que não guarda similaridade com nenhum outro, exceto sua metade montada no Mercado dos  Pinhões; pouco importa se tem valor histórico-cultural, se a história de Fortaleza passa por ali.  Não é à toa que qualquer um se acha no direito de mandar demolir prédios em processo de tombamento, sem a mínima preocupação com sanções, a não ser uma irrisória pena pecuniária. É porque o (mau) exemplo vem de quem propõe a lei. Taí o Mercado da Aerolândia como testemunha.



fotos de julho/2012
por Rodrigo Paiva e Fátima Garcia

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Férias de Julho em Fortaleza

Avenida Beira Mar

De uns anos para cá Fortaleza se tornou um dos maiores destinos turísticos do Brasil. A cada ano mais pessoas visitam a cidade,  fazendo a festa dos meios de hospedagens, dos serviços turísticos e dos centros de compras. 
Em julho, o Ceará deve receber 395 mil turistas via Fortaleza - 35,4 mil a mais que em julho de 2011, quando 359,6 mil turistas desembarcaram no Estado pela Capital. Isso reapresenta uma expansão de 9,8%. 
A expectativa da Secretaria de Turismo do Ceará, é que esses turistas deixem no Estado uma receita de R$ 639,9 milhões, montante 19,4% superior ao total movimentado no Ceará na alta estação do ano passado.
Por isso, o blog resolveu passar algumas dicas para os visitantes -  principalmente para os que vão se hospedar em casa de parentes - reproduzindo os conselhos do Tarcísio Garcia, constantes do seu livro de autoajuda.

onde comprar artesanatos, produtos típicos, confecções, calçados, bolsas e outros artigos produzidos no Ceará

Feirinha da Avenida Beira Mar

Encetur - Rua Senador Pompeu, 350, centro de Fortaleza

 Mercado Central  - Avenida Alberto nepomuceno, 199 - vizinho a Catedral da Sé

Avenida Monsenhor Tabosa, Praia de Iracema 

Beco da Poeira - comércio popular, informal, que já foi a céu aberto, hoje funciona na antiga  fábrica Thomaz Pompeu, na Avenida do Imperador, Centro.  

Passeio de Férias

A chegada das férias é sempre motivo de alegria e satisfação para as pessoas que ainda tem o privilégio de gozar este período de maneira merecida, ou seja, passeando! Se você vai aproveitar a folga para fazer uma revisão nos dentes e tirar a ferrugem do carro velho, pode saltar estas páginas. Agora, se vai viajar, não custa nada dar uma olhadinha nas dicas deste primeiro capítulo.
Um dos fatores que mais contribuem para deixar a gente cheia de pernas numa viagem de férias é a falta na bagagem de itens de primeira necessidade, que costumam ser esquecidos no faniquito que antecede à arrumação da mala na véspera da viagem. 
Sem querer ser o sabidão, mas reconhecendo que a experiência adquirida em minhas seguidas excursões à Serra da Meruoca, Boqueirão do Cesário e Pedra da Galinha Choca, estou disposto a abrir mão dos meus conhecimentos em favor do leitor, que pretende viajar sem maiores sobressaltos.




Programa imperdível, um passeio de barco pela orla da Praia de Iracema. Dura umas duas horas e várias empresas oferecem o serviço, que pode ser contratado diretamente nos quiosques na Praia do Mucuripe. 

Listas de Viagem

Primeiro: 
compre sua própria mala. Não existe nenhum charme em viajar com uma sacola ou mochila emprestada, pois é arriscado você se encontrar com o dono da mala na rodoviária, ele lhe flagrar sentado em cima da bicha e reclamar na frente dos seus amigos. Ou ainda, em caso de extravio ou troca involuntária da bagagem, lhe poupa de um vexame semelhante ao que eu passei em Araripina, quando uma mulher levou minhas catrevagens por engano, e na aflição do momento, findei entregando pra todo mundo que a mala não era nem minha.

Segundo: 
Compre também uma sacola de mão, para acondicionar os pertences que serão usados no percurso, como escova de dente, pente e espelhinho; isso dispensa o abre-e-fecha da mala principal na hora duma precisão, e ali você pode entocar uns biscoitos, chocolates, amêndoas e umas lapinhas de queijo para comer escondidinho, na calada da noite quando seus amigos dormirem. É necessário, porém, eliminar com antecedência todas as embalagens de plástico zoadento que costumam chamar atenção e atrair sócios na hora da merenda. Aconselho ainda o amigo a amufumbar tudo isso numa silenciosa cumbuca de plástico com a tampa frouxa, que possa ser aberta sem chacoalhar o que tem dentro. Assim abastecido, você estará livre da necessidade de descer nas paradas e disputar no grito, os caldos e cai-duros de beira de estrada.

Terceiro: 
tenha um blusão básico. É imprescindível ao viajante um toque de elegância europeia na hora do embarque, porque ajuda na paquera e permite você inventar uma história de mentirinha, no caso de estar indo para um sertão brabo e ficar com vergonha de dizer. Outra coisa: com o blusão ao alcance da mão, você se cobre com a paquera dentro do ônibus para uma sessãozinha de pega-pega no frio da madrugada, forra o braço da poltrona antes dum cochilo, e durante o dia pode proteger a cabeça do sol quente quando o calor arrochar.

outro passeio que faz sucesso entre os turistas é uma visita ao Beach Park, localizado no Porto das Dunas, em Aquiraz, pertinho de Fortaleza (foto divulgação). 

As Malas

Faça uma lista completa de tudo que vai precisar, para não ficar aperreando o povo da casa com pedidos inconvenientes. Um hóspede calado já está errado, imagine perambulando por dentro de casa, escruvitiando gaveta e pedindo coisa emprestada. Portanto, não esqueça nada! Faça uma lista com tudo que você está levando.
Confira a lista e na véspera organize os volumes maiores na mala grande. Leve a cópia da lista para na volta não esquecer nenhuma folha de torém na casa alheia. A sacola de mão pode ser arrumada depois, porque até a última hora aparecem recipientes que tem que caber nela, como a indispensável quartota. 
Tudo pronto? Certifique-se que o endereço dos primos está anotado corretamente, confira a passagem e o dinheiro no bolso mais uma vez, pegue o rumo da rodoviária e boa viagem!

A Praia do Futuro oferece muitas opções de diversão tanto durante o dia e  quanto de noite. Mas fique alerta: de dia, falta estacionamento e é preciso ter cuidado no banho de mar. E à noite, falta segurança. 

O Desembarque

rodoviária de Fortaleza (foto Fortalbus.com)

Desembarcar de madrugada, só se você for uma celebridade, tiver dado entrevista recentemente em todos os canais de TV e trouxer na bagagem um Oscar, um Prêmio Nobel, ou uma Taça de Campeão Mundial de seja lá o que for. Caso contrário, procure chegar num horário conveniente, senão o povo já lhe recebe de tromba.

Mandamentos do Hóspede

1 – leve de presente para a dona da casa, um conjunto de seis copos para água;
2 – ache a casa linda, mesmo que seja uma marmota;
3 – levante-se cedo tome um banho para tirar a cara de bicho, vista uma roupa limpa e apareça. Entre na sala achando graça e dando bom dia a torto e a direita, e de quebra, estrale o dedo pro cachorro;
4 – diga que dormiu muito bem. É deselegante dizer que a casa é quente e está cheia de muriçoca. Nesta hora do dia é proibido o uso de desodorante com cheiro de despacho, e loção à base de almíscar selvagem, para não interferir no paladar;
5 – as iguarias especiais, que estão à mesa do café da manhã, foram compradas por causa da sua presença, mas não vá se aproveitar e encher o bucho de queijos e presuntos que você também não tem costume de comer a esta hora do dia, podem fazer mal. O melhor é fazer de conta que aquilo é normal na sua casa e não abusar. Apenas prove as novidades, depois faça a base com uma boa tora de pão.


6 – saia para uma caminhada, para não ficar entrançando por dende casa enchendo o saco do povo. Se tiver preguiça de praticar esportes, pelo menos finja que fez um exercício, dando uma volta no quarteirão para molhar o sovaco de suor. Ao retornar, arraste os pés ou tussa para avisar que vai entrando, e leve algum agrado pros meninos: umas rasga-latas, um apito ou uma cornetinha de plástico. O importante é não voltar de mãos abanando;
7 – na hora das compras compete ao hóspede as tarefas de facilitar o troco e carregar os embrulhos mais pesados, como sacos de arroz, feijão e açúcar. Em todo caso, se perceber que o povo da casa está lhe explorando, faça pose de forte e leve a sacola de papel higiênico na cacunda;

8 – mantenha o quarto arrumado de modo que a dona da casa não tenha do que reclamar. As roupas usadas devem ficar escondidas no fundo daquela sacola mais velha que já é própria para isso. Estenda seus panos de bunda, que devem ser lavados durante o banho, e sua toalha no lugar mais discreto possível, principalmente se tiver alguma peça encardida ou furada. Nada de deixar chinela bolando pelos cantos de parede, nem óculos escuros e pochete em cima da geladeira. O que não estiver sendo usado fica no quarto;
9 – atender ao telefone ou o portão, nem pensar, só se lhe pedirem;
10 – o hóspede se serve primeiro, no primeiro dia. Daí em diante o almoço transcorre na base do salve-se-quem-puder. O jeito então é você falar pouco e aproveitar este dia de mordomias para passar bem. Seu silencia será interpretado como timidez, cansaço da viagem ou período de adaptação. Portanto, fique só hum-hum, no balançado de cabeça e arroche a comida enquanto o povo da casa conversa. Não raspe o prato e deixe um pouquinho pro cachorro;
11 – tenha o cuidado de não se engasgar, não enxugar a boca na toalha e não chupar os fiapos dos dentes enquanto estiver sentado à mesa;
12 – se ficar com sono depois do almoço, dê uma olhada no noticiário que é tiro e queda, assistir a TV, ajuda a chamar o sono. Aí num instante aparece alguém da casa que notou seus olhos miúdos e lhe oferece aquela rede grandona, que vive guardada para uma ocasião dessas. Para não parecer preguiçoso, converse um pouco na beirada antes de se deitar e aproveite para elogiar o almoço e dar os recados. Quando já estiver pegando piaba, pela licença, se espiche na rede e durma até o cu fazer bico, porque no dia seguinte, não lhe oferecem mais a rede;

13 – se algum dos primos lhe convidarem para dar uma voltinha pelo bairro no final da tarde,  isso significa que você está intimado a aprender o caminho da padaria e no dia seguinte aparecer em casa com uma braçada de maria-maluca, bolo três-sabores ou pé de moleque para o café da manhã. Nem se atreva a levar pão ou bolachinha seca;
14 – se houver um passeio e não couber todo mundo no carro, o hóspede deve se antecipar e dizer que faz questão de ir de ônibus ou a pé, para descobrir ou rever a cidade;


15 – o hóspede deve ser o último a pegar no jornal. Depois que todo mundo da casa tiver lido e espatifado tudo, é que você junta os bagaços e vai ler o que sobrou;
16 – é da alçada do hóspede-macho: trocar lâmpadas queimadas, eliminar vazamentos de torneiras e tirar goteiras; Hóspede-fêmea: lavar os pratos, varrer o terreiro e pentear os cabelos da dona da casa, a título de adulação;
17 – cadeiras estofadas e canecos de alumínio são exclusivos do povo da casa. O hóspede deve sempre se fazer de descontraído e se sentar no chão ou nos tamboretes sem encosto e também só beber água nos copos de geleia;


18 – quando a feira começar a minguar e aparecer ovo estrelado no almoço, o povo da casa desandar a reclamar de luz acesa à noite, arrastado de chinela e baticum de copo na cozinha, está na hora do hóspede pagar a cerveja que ficou pendurada na bodega, arrumar as malas conferindo tudo pela lista, pronunciar o velho desculpe ai qualquer coisa e pegar o rumo da venta. E já vai tarde! 

extraído do livro
Autoajuda na Ruma - Neurolinguística Cearense,
de Tarcísio Garcia   

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pelas Ruas e Avenidas de Fortaleza – Parte III

Avenida Domingos Olímpio

A Avenida Domingos Olímpio já se chamou Travessa dos Coelhos e Travessa n° 8, ganhando mais tarde a denominação atual. O nome Travessa dos Coelhos era devido a atual Praça José Bonifácio, que fica em frente ao quartel da Polícia Militar, que por sua vez fica de costas para a Domingos Olímpio, ser conhecida por Praça dos Coelhos.
A Avenida Domingos Olímpio inicia na Avenida Visconde do Rio Branco, no sentido nascente/poente, mesmo local que, no sentido contrário nasce a Rua João Brígido. E como se uma fosse o prosseguimento da outra, e vai terminar na Avenida José Bastos, no trilho do trem.



Por muito tempo a Domingos Olímpio foi uma espécie de perimetral, já que todas as ruas de sentido norte-sul praticamente terminavam nela. Quando continuavam ou eram em areia de tabuleiro ou eram fechadas logo em seguida por cercas, que guardavam sítios como o de Eugênio Porto, que fechava as Ruas Conselheiro Tristão e Jaime Benévolo. 
De todas as ruas que atravessam a Domingos Olímpio apenas a Barão de Aratanha, Barão do Rio Branco e Senador Pompeu prosseguiam. A Barão de Aratanha era apenas um caminho estreito.  Em 1949 os sítios começaram a ser abertos e as ruas tiveram prosseguimento.  A Domingos Olímpio tinha início praticamente na Conselheiro Tristão. 



Existia para o lado de seu atual início apenas um quarteirão em areia que ia até os fundos da Igreja das Doroteias. Na década de 1960, foi aberta e urbanizada,  e foi beneficiada com o advento da Avenida Aguanhambi, que lhe deu outra feição.
Na década de 1990 a Domingos Olímpio passou por obras para alargamento da via. As obras foram iniciadas ainda em 1992 com a demolição das primeiras casas desapropriadas.  Com o desaparecimento da estação ferroviária de Otávio Bonfim, a via termina no cruzamento com a Rua D. Jerônimo, no bairro Farias Brito (mais conhecido como Otávio Bonfim).


Em 2010 foi concluída a obra de alargamento da Rua Justiniano de Serpa, entre as avenidas Domingos Olímpio e Bezerra de Menezes, para facilitar o escoamento do tráfego no trecho. 

Quem foi
 

O cearense Domingos Olímpio (Sobral, 1850- Rio de Janeiro, 1906), foi o primeiro escritor a destacar, na literatura brasileira, o papel da mulher como personagem central de um romance nas condições históricas do sofrimento nordestino. O livro “Luzia Homem”, publicado  em 1903, narra a vida da sertaneja amargurada diante do flagelo da seca que,  para sobreviver executa com a mesma desenvoltura diversas tarefas até então exclusiva dos homens. Bonita, atraente tem um fim trágico ao defender a própria honra. Patrono da cadeira n° 8 da Academia Cearense de letras, Domingos Olímpio conquistou o respeito e notoriedade nacional pelo romance. Apesar disso, a maior parte de sua obra continua inédita. 



Extraído do livro
A história do Ceará passa por esta rua
de Rogaciano leite Filho

domingo, 1 de julho de 2012

Os Primeiros Cinemas

Como em outros centros, o cinema do Ceará foi precedido de várias demonstrações de projeções luminosas, exibições primitivas de bioscópios, fantascópios, animatógrafos. Gustavo Barroso fala no Estereopticon, da empresa Cabral e Cia., que também teria funcionado no prédio da Casa Palhabote. Em 1907 também houve exibições cinematográficas no teatrinho do Clube Iracema, promovidas pela empresa Oliveira e Coelho. 

 Salão principal do Clube Iracema, em cujo teatrinho foram exibidos alguns filmes no ano de 1907 

Mas cinema, cinema mesmo, quem o introduziu no Ceará foi o cidadão italiano Vittorio di Maio, que se tornou conhecido em Fortaleza, onde chegara em 1907, como Vitor di Maio.  Ele, que já no século XIX, dez ou doze anos antes, teria instalado o primeiro cinematógrafo no Rio, instala no ano de sua chegada à capital cearense seu animatógrafo na parte dos fundos da Maison Art Nouveau, isto é, na Rua Municipal (atual Guilherme Rocha). De instalações modestas, o Cinema di Maio foi a casa pioneira da arte cinematográfica no Ceará.

 Rua Ou Travessa Municipal (atual Rua  Guilherme Rocha em foto de 1925) onde se instalou o Cinema Di Maio em 1907. 

O salão era dividido ao meio por uma grade de madeira que separava a primeira classe, mais distante, e a segunda, mais próxima da tela. Bancos duros na “geral”. Havia enchentes aos domingos e às vezes ficavam espectadores de pé, provocando protestos e reclamações para que tirassem os chapéus.
Os preços eram mil réis a primeira classe e quinhentos réis a segunda. Caros para a época. Os   filmes eram franceses e italianos, de curta metragem. Havia na programação sempre um ou dois filmes naturais, muito panorâmicos e parados. Completava o programa uma ou duas fitas de maior extensão, e para o fecho, uma comédia.

    Na Rua Barão do Rio Branco, antiga Rua Formosa, Henrique Mesiano inaugurou o Cinema Rio Branco em 1909 - foto de 1910 
 
Em 1909 o comerciante Henrique Mesiano inaugura o Cinema Rio Branco, na rua do mesmo nome, quase na esquina  da Assembleia. E logo a seguir Júlio Pinto oferece ao público o cinema Casino Cearense.  No cinema Rio Branco instalado com mais capricho, havia uma boa orquestra, por muito tempo dirigida pelo maestro Luigi Maria Smido. No programa distribuído aos frequentadores constavam as músicas a serem executadas pela orquestra. As sessões noturnas eram duas vezes. A última sessão, quase sempre a de frequência mais distinta, era chamada de “Soirée Chic” ou “Soirée das Rosas”.
Por algum tempo, o Rio Branco foi o mais prestigiado dos cinemas da capital. Fez temporadas de grande êxito com seriados. Aos domingos havia matinê infantil, às 6 horas com programas especiais e muita algazarra. Também passavam filmes policiais, com crimes e bandidos em profusão. Não havia restrição a menores, o público era formado por todas as idades. 

 Rua Major Facundo em 1930, com o prédio do cine-teatro majestic Palace, inaugurado em 1917 

O Casino Cearense (Cinema Júlio Pinto) era de instalações mais modestas, mas num amplo salão. A projeção era feita na parede. Nos primórdios o Casino teve orquestra, na sala de espera inclusive. Depois passou a ter apenas uma pianista na sala de projeção.
Tanto o Di Maio como o Rio Branco e o Júlio Pinto possuíam na fachada campainhas estridentes que anunciavam o início e o término das sessões. O Di Maio manteve algum tempo um realejo martelante.
Com a morte do proprietário, o Cinema Di Maio passaria mais tarde por uma reforma e receberia nova denominação: Cinema Riche, de Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado. Marcava o modesto cinema de Fortaleza a entrada no mercado cinematográfico  de Luiz Severiano Ribeiro, que viria a ser um dos maiores exibidores do Brasil, chegando a possuir mais quarenta cinemas só no Rio de Janeiro.
Em 1911 apareceu outra casa de espetáculos que marcaria época. Foi o Cine-teatro Politheama, da empresa Rola  e Irmão. Casa montada com certo bom gosto, no coração da cidade, isto é, no meio do quarteirão mais importante de Fortaleza, na Praça do Ferreira. Quando surgiu oferecendo maior conforto o Politheama logo se tornou  o principal cinema da cidade. Exibiu grandes filmes e lançou no Ceará das fitas norte-americanas da William Fox Corporation. 

 O Politheama e o Majestic foram instalados na Praça do Ferreira em 1911 e 1917, respectivamente

Os cinemas se mantiveram heroica e milagrosamente com duas sessões de segundo a sábado e três aos domingos, incluindo a vesperal infantil. Nesse período apareceu ainda outro cinema, localizado na Rua Floriano Peixoto, esquina da Praça do Ferreira. Denominava-se American-Kinema e teve vida efêmera.
O cinema em Fortaleza não foi pelo menos até 1930, um hábito arraigada da população. Contava-se aos milhares as pessoas que, mesmo residindo no centro, jamais entraram num cinema!  Nunca foi possível até então os cinemas funcionarem à tarde. E mesmo as sessões noturnas só eram concorridas aos sábados, domingos e feriados, ou nas exibições de seriados ou de filmes sacros.

 Praça do Ferreira, década de 1920, com o prédio do Cine Moderno

Nos primeiros anos da década de 1920 houve uma espécie de guerra dos cinemas, que resultou que alguns deles como o Rio Branco e o Júlio Pinto baixassem os preços que chegaram até 100 réis, isto é, um tostão.  Mesmo assim o cinema não se popularizou como deveria acontecer numa cidade de 70 a 80 mil habitantes, sem teatros funcionamento regularmente e sem outra diversão a não um ou outro circo, que aparecia esporadicamente, que geralmente armava sua lona na Praça da Lagoinha ou da Estação.
Depois do Politheama, que teve seus dias de gloria como teatro inclusive, surgiu em 1917 o Majestic, de Plácido de Carvalho. Localizado na Praça do Ferreira, no prédio mais alto da cidade e em posição privilegiada, o cinema-teatro era moderno, grande e confortável, tirando o Politheama da competição e se tornando o cinema preferido da cidade.

Praça do Ferreira em 1919, com o Café Elegante e ao fundo o prédio do Cine-teatro Majestic palace

O Majestic abrigou várias companhias teatrais e foi inaugurado pela transformista Fátima Miris a 14 de julho de 1917. Na sua  vasta sala de espera havia um grande quadro de Francesca Bertini, pintado pelo artista cearense Raimundo Siebra.
Houve uma fase que o cinema de Fortaleza foi submetido a um truste, passando a funcionar em circuito, o mesmo filme era exibido pelos três cinemas. Depois do Majestic foi inaugurado pela mesma empresa o Cine-Moderno, que logo se tornou o principal do estado. À sua última sessão de domingo acorrida toda a sociedade de Fortaleza, que antes comparecia à retreta no Passeio Público. Antes das nove horas, o mundo elegante abandonava o velho logradouro e desembocava pela Rua Major Facundo, desfilando pelas inúmeras rodas da calçada das residências dos sírios, rumo ao Moderno.
Por preguiça, comodidade ou até por motivos de ordem econômica, o cinema até 1926 pelo menos, não chegou a ser diversão nem popular, nem efetiva da cidade. 

fotos do Arquivo Nirez
pesquisa:
Fortaleza de ontem e de anteontem, de Edigar de Alencar

quinta-feira, 28 de junho de 2012

As Antigas Padarias

Não tinha muita lógica. A água não era boa, mas o pão era excelente, elogiado por todos. Tão bom quanto os melhores do Brasil, diziam. No entanto, o pão fabricado em Fortaleza perdeu a qualidade. Está longe de ser o que foi, leve, saboroso e de bom aspecto. 

Padaria Ideal
Inaugurada em 1925, a Padaria Ideal funcionou inicialmente na Rua Barão do Rio Branco. Depois foi vendida e mudou-se para a esquina da Rua Guilherme Rocha com a Avenida do Imperador. 

Não seriam muitas as padarias de Fortaleza nas duas primeiras décadas deste século. Talvez não chegassem a uma dúzia, mas o pão era de boa qualidade. Havia a Padaria Aveirense, a Palmeira,  a Industrial, a Fábrica Aliança – movida a vapor e talvez por isso, a primeira a se designar fábrica – e a tradicional Santo Antônio, de Emilio Sá, na Rua do Livramento (atual Clarindo de Queirós) , a única de propriedade de cearenses, pois as demais pertenciam a portugueses e italianos.

Padaria Palmeira
A Padaria Palmeira funcionava na esquina das ruas Senador Pompeu com Guilherme Rocha, para onde mudou-se em 1923. Pertencia a firma Ferreira da Silva & filho. Além da panificação atuava também no ramo de torrefação com o Café Palmeira.
     
Em Parangaba havia a Padaria Natalense, de José Pedra, crioulo forte simpático, que além do pão fabricava à tarde umas rosquinhas de grande procura, principalmente nas festas de Bom Jesus, em dezembro.  Diziam que o segredo das rosquinhas vinha do uso da água da lagoa vizinha. O fato é que nenhum outro estabelecimento de Fortaleza chegou a imitar a deliciosa iguaria fabricada pelo Zé Pedra. 

Padaria Imperial
A Padaria Imperial de Antônio Escudeiro de Almeida e José Antônio da Silva, foi fundada em 1923, na Avenida Visconde do Rio Branco. Em 1934 passou a pertencer ao grupo de M.Dias Branco.  

Nos velórios daqueles tempos era costume dos presentes irem buscar na padaria mais próxima, de madrugada, os pães quentes para matar a fome dos que “faziam o quarto”. Os mais afamados eram os pães sovados da Padaria de Emilio Sá. Na Rua 24 de maio instalou-se na década de 1910 a padaria do português José da Silva Bottas,  que pôs o nome de Padaria Biju. A designação dava margem a comentários. Teria o proprietário aportuguesado a palavra francesa ou usado apenas uma variante de beiju? O certo é que os pães a Biju eram gostosos e as famílias freguesas recebiam de brinde no Natal um bonito e enfeitado pão doce, especialmente fabricado para a época. 

Padaria Lisbonense
Em 1875 surgiu a fábrica de produtos alimentícios que deu origem à Padaria e Confeitaria Lisbonense.  A Lisbonense foi fundada em março de 1916, por Pelágio Rodrigues de Oliveira, José Teixeira de Abreu e Abílio Rodrigues de Oliveira. Em 20 de abril de 1927, passou a funcionar na Rua Pedro Borges, 151/57. Encerrou suas atividades em 10 de outubro de 1983, sob a acusação de estar poluindo o centro da cidade.

Também houve um tempo em que começou a aparecer a tarde o chamado pão do chá. Eram pães especiais, vendidos em latas carregadas pelos padeiros que o apregoavam – olha o pão do chá! – bem apresentados, ainda quentes e nos baús de lata pintados de verde. As famílias ficavam à espera dos pães para o café da merenda, que nunca era chá, que ninguém estava doente...
Os pães da tarde, fabricados com esmero por duas ou três padarias eram de três tipos: o pão do chá, o pão suíço e o pão de leite. Também havia o pão-baliza que dava margem a trocadilhos pitorescos.
Certa vez um desses entregadores de pão da tarde propiciou uma cena tragicômica. Passou anunciando mais tarde do que no seu horário habitual:
- pão de leite, suíço e doce.
Devido a meia língua do vendedor novato e o pregão fora de hora, uma senhora entendeu que era o grito de um gazeteiro, anunciando que o “Padre Leite suicidou-se”, e tratou de espalhar a noticia.
Quanto ao pão da manhã era entregue em domicilio pelos padeiros que o conduziam ao ombro em grandes cestos de vime que arriavam e levantavam, numa rápida e habilidosa operação. 

Padaria Americana
A Padaria Americana foi instalada na Rua General Sampaio, quando o proprietário João Otávio Vieira Filho, transferiu o estabelecimento de Aracati para Fortaleza em 1880. Foi a primeira fábrica de biscoitos e bolachas do Ceará.  

Mas nem só de pão viviam os cearenses da capital. Havia as bolachinhas de manteiga, e de coco; havia ainda os pães-doces, pequenos ou artisticamente desenhados;  e havia o já mencionado pão sovado (Provença), de formato curioso a que Pedro Nava chamou de pão de Provença, em forma de bundinhas e que se dividia separando as duas nádegas.
Curiosas eram também as bolachas fogosas, grandes, redondas e grossas, um tanto maçudas, mas apreciadíssimas no café da manhã. Essas bolachas não eram fabricadas regularmente  embora tivessem muita procura. 
Todos esses produtos há muito deixaram de ser fabricados em Fortaleza.  O que temos nos dias atuais, é o manjado pãozinho com bromato:  grande, oco, seco, só casca, que se esfarela ao ser tocado.


Extraído do livro
Fortaleza de ontem e anteontem, de Edigar de Alencar