terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Centro Popular

Reproduzindo a tendência das metrópoles brasileiras na produção do espaço, em Fortaleza, a partir da década de 80 surgiram novas áreas  de centralidades, ao mesmo tempo em que seu centro tradicional iniciou sua transformação em centro de consumo popular.

 Praça do Ferreira década de 50.  O Centro tradicional era também o Centro principal (foto do Arquivo Nirez)
 
Com os atributos de concentrar o maior número de atividades, dispor de amplas condições de acessibilidade e localizar-se num ponto em que todos podem se reunir, despendendo o menor tempo possível, o centro se constitui como o lugar de maior atração de consumidores da cidade e concentra o maior número de empregos do setor terciário, que o qualifica como centro principal da cidade, detentor de centralidade econômica.

  Abrigo Central na Praça do Ferreira década de 50 (Arquivo Nirez)

O centro principal e o centro tradicional coincidem nas metrópoles brasileiras. Tradicional por ser o marco histórico de surgimento da metrópole, portanto, possuidor da centralidade política e cultural, pois congrega equipamentos governamentais, religiosos, de lazer e de entretenimento, que o potencializam como lugar de interação social e lhe conferem a simbologia de centro de poder da cidade.
Nas metrópoles brasileiras, a burguesia abandonou o centro e levou junto as atividades socioeconômicas que atendiam suas demandas.

 Avenida Monsenhor Tabosa, uma nova centralidade

Depois, por meio da mídia, argumenta que o centro envelheceu e, por isso, naturalmente se degradou. Tal postura que naturaliza o processo social de deterioração é, de fato, a transformação do centro no centro da maioria, pois passou a atender a demanda e os interesses das camadas populares.
Outro movimento evidenciado relaciona-se ao fato de que as camadas de alta renda escolhem uma determinada região da cidade para se concentrarem de modo predominante, passando a atrair progressivamente para lá, atividades e equipamentos que atendem às suas necessidades, fazendo surgir uma estrutura urbana formada por novas áreas de centralidade e pelo centro principal.

 Avenida Santos Dumont (arquivo Nirez)

No caso de Fortaleza, a partir da década de 1930, as camadas de alta renda abandonaram o Centro para se estabelecerem na Aldeota, que se expande na década de 1940 e se consolida na década de 1950, tendo como vetor de estruturação urbana a Avenida Santos Dumont, na direção centro-leste, confirmando a tendência desse segmento socioeconômico de se concentrar em uma única região da cidade.

 Feira de Artesanato na Avenida Beira Mar

Atraído por esse segmento, na década de 1970, surge na Aldeota um embrião de uma nova área de centralidade,  o qual se expande e se consolida nas décadas de 1980 e 1990, constituindo-se em um subcentro com o porte de segunda mais importante centralidade econômica de Fortaleza. A constituição desse subcentro nessas duas décadas, coincide com a intensificação da tendência de deslocamento de atividades socioeconômicas do centro tradicional na direção do bairro da Aldeota.

Centro de Fortaleza tomado pelo comércio informal
 
Esse movimento, no entanto, não desbanca o centro tradicional da sua condição de principal, pois o mesmo mantém sua posição de concentrar a maior quantidade de empregos do setor terciário. O lugar das atividades que se deslocaram é ocupado por atividades de comércio popular, as quais mantém sua vitalidade econômica. 
Assim, concentrando as centralidades econômica, política e cultural, o Centro tradicional de Fortaleza, se transformará no centro das camadas populares que atende a cidade como um todo e as regiões de sua área de influência.

reprodução do artigo O Centro da Maioria
de Joaquim Cartaxo
publicado na Revista Fortaleza, fasciculo 10 

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