sábado, 8 de fevereiro de 2025

Memórias da Praia de Iracema

 

O Coqueiral da Maria Júlia


imagem Diário do Nordeste

O proprietário do sítio era Tancredo de Castro Bezerra, mas era conhecido como “coqueiral da Maria Júlia” porque era ela quem administrava o lugar. Casados, Tancredo e Maria Júlia moraram no sítio com cinco filhos até o final da década de 50; estava localizado entre a atual avenida Historiador Raimundo Girão e as ruas, ainda sem pavimentação, Dragão do Mar, Joaquim Alves e Gonçalves Ledo.

Com uma área de aproximadamente dois hectares, o sítio tinha um casarão e uma grande plantação do coqueiro gigante, tipo cocos nucifera linnaeus, uma espécie de coqueiro que atinge até 30 metros de altura, e podia ser visto de longe. A produção artesanal de coco seco, sem os tratos culturais necessários e dependente das águas de chuva, era destinada a comercialização, e tinha grande aceitação.

A área não possuía muros nem cercas, como também as demais propriedades locais. Como não realizavam capinas, os coqueiros eram intercalados por grande variedade de plantas que favorecia a existência de várias espécies de animais, possibilitando uma fauna diferenciada.

No inverno, parte do coqueiral ficava alagada, em virtude da superficialidade do lençol freático. No verão, quando o terreno estava seco, a meninada capinava o mato para fazer um campo de futebol improvisado, embora intercalado de coqueiros. No segundo semestre do ano, as alunas do Colégio das Doroteias ministravam aulas de catecismo às crianças, todas as quintas-feiras. Depois as professoras emprestavam bolas de futebol para recreação. No sítio também aconteciam quermesses.

Além da atividade econômica, o sítio da Maria Júlia, cumpriu uma importante função social para a Praia de Iracema dos anos 50.

 

O Poço da Maria Félix


postal dos anos 30

O poço da Maria Félix era uma escavação no sítio de Almir Freitas, localizado na avenida Historiador Raimundo Girão, e as ruas Dragão do Mar, Gonçalves Ledo e dos Ararius. A parte baixa do sítio tinha o lençol freático muito superficial, que favorecia a exploração de poços e cacimbas.  

Maria Félix era moradora do sítio do Almir. Ela escavou um poço próximo de sua casa, na confluência das ruas Dragão do Mar e Gonçalves Ledo. O poço era de forma circular, seis metros de diâmetro e metro e meio de profundidade. A finalidade era obtenção de água para consumo, regar suas plantas frutíferas e auferir renda lavando roupas das famílias da vizinhança. Maria dedicava boa parte do seu tempo a cuidar da casa, das plantas, da água do poço e não gostava de invasores em seus domínios. 

Sabendo disso, muitos jovens ao retornarem do banho de mar, aproveitavam para mergulhar na fonte da Maria Félix, às escondidas, enquanto ela estava dento de casa. Mas o barulho produzido contra superfície da água, alertava a lavadeira para o fato de haver intrusos poluindo a água, turvando sua transparência, já que a lama do fundo subia após o contato com os pés dos nadadores.

Imediatamente Maria pegava um porrete e corria para pegar os meninos que sempre eram mais rápidos do que ela. Outra forma de importunar a lavadeira era através da captura de jia no seu poço, com utilização de linha de pesca, anzol e iscas. Além disso a moradora vivia preocupada com os constantes furtos de frutas que ocorriam no seu terreno.

O sítio, o poço da Maria Félix, e as árres frutíferas, sumiram no tempo, junto com as reformas e a modernidade da Praia de Iracema. 

 

 A Piscininha

imagem do livro Fortaleza 27 graus

Até os anos 90 existia na Praia de Iracema, uma piscininha que se formava duas vezes por dia, sempre na maré alta. Tinha o formato de uma pequena lagoa e surgiu quando construíram o quebra-mar de pedra, para conter o avanço do mar sobre a zona residencial da faixa litorânea.

Praticamente todos os anos, nos primeiros meses, a maré alta invadia a faixa de areia cada vez com mais intensidade, e chegava até a rua dos Tabajaras, destruindo as edificações que estavam pelo caminho.

A partir da construção do quebra-mar, a onda perdeu a força destruidora de antigamente. A localização da piscininha correspondia às imediações do início da rua dos Tremembés, próximo ao Estoril. Era o local ideal para quem desejava aprender a nadar, em razão de suas ondas de pequena intensidade, oriundas da maré alta, mas que ficavam amortecidas ao passarem no quebra-mar. Na maré baixa o reservatório perdia a totalidade de suas águas. A profundidade era variável, sendo mais fundo próximo às pedras.

Em 2009 a Prefeitura de Fortaleza promoveu mais uma obra de engorda que aumentou a faixa de praia em 80 metros. O processo de requalificação da área para ampliação do calçadão, riscou a piscininha do cenário, que acabou sendo aterrada. Com isso, as boas memórias de muita gente foram aterradas junto com a piscininha.    

 

Extraído do livro A Praia de Iracema dos anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Fortaleza: Premius, 2010/informações adicionais do G1.

Um comentário: