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Quando  Henry Koster,
português filho de ingleses, inicia suas impressões sobre a vila de Fortaleza,
que visitou no período de 16 de dezembro de 1810 a 8 de janeiro de 1811, o governador da
província era Luiz de Barba Alardo de Menezes,  a população era, em sua maioria, pobre e não alfabetizada, e havia apenas duas
escolas primárias e uma para ensino de latim.
As impressões do visitante foram expressas na obra Travels
in Brazi
l, sendo minuciosas  quanto ao
ambiente e aos costumes da população e dos índios que habitavam as aldeias de
Arronches, Messejana e Soure, respectivamente os atuais Distritos de Parangaba
e Messejana e o município de Caucaia.


1811+planta_imagem_fortaleza Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
Planta de Fortaleza 1811


A capitania do Siará, doada ao fidalgo Antônio Cardoso de
Barroso, nunca fora objeto de ação colonizadora, até uma primeira e malfadada
tentativa da expedição do nobre açoriano Pero Coelho de Souza.  Depois, em 1612, novo esforço de colonização,
dessa vez  com o também açoriano Martim
Soares Moreno.
Quando Martim Soares Moreno deixou o Ceará em definitivo, no
ano de 1631, a região voltou ao domínio dos indígenas, após o extermínio dos
portugueses remanescentes. Em 1649, o Ceará é invadido pela expedição holandesa
de Matias Beck que constrói o Forte Schoonenborch, à margem do Riacho Pajeú. 
Sitiado pelos portugueses comandados por Álvaro de Azevedo Barreto, em 1654,
Beck se rende e o forte que construira é rebatizado com o nome de Fortaleza de
Nossa Senhora da Assunção.  
Por Carta
Régia de 13 de fevereiro de 1699, a coroa portuguesa autoriza a criação de uma
vila no Ceará. Depois de muitas discussões em torno da localização, a vila foi
instalada em Aquiraz. Mas uma invasão dos índios Paiacus, Anassés e
Jaguaribaras, resultou no massacre de 200 dos seus habitantes, provocando a
debandada dos sobreviventes e dando motivo para a criação de uma segunda vila
no Ceará.
Em consequência, a 13 de abril de 1726, junto ao forte, é
instalada a Vila de Fortaleza de Nossa senhora de Assunção. E por quase um
século a história narra um lento desenvolvimento que conduz ao povoamento
desolado da primeira década do século XIX.


casas+dos+governadores+na+atual+conde+deu+antiga+rua+dos+mercadores+onde+hoje+esta+o+centro+de+ref+do+professor Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
primitiva Casa dos Governadores na antiga Rua dos mercadores (atual Conde d’Eu) no local onde hoje se encontra o centro de referência do professor) 


Transformações importantes viriam com o governador Manoel
Ignácio de Sampaio, responsável pelo que seria o primeiro plano urbanístico de
Fortaleza. Essa nova realidade marca decisivamente a vida local, ensejando
possibilidades animadoras. E resulta no Decreto do Imperador d. Pedro I, a 17
de março de 1823, logo após a independência  do país do domínio português, elevando a
antiga vila à cidade com o nome de Fortaleza de Nova Bragança, denominação
não aceita pela população.

No ano seguinte, para efetivar a adesão da província à
monarquia brasileira, chega à Fortaleza, a bordo da nau Pedro I, o almirante
Lorde Thomas Cochrane, que cumpre seus objetivos políticos e não se esquece de
oferecer sua contribuição à ambientação da cidade, plantando fileiras de
árvores de ambos os lados das ruas. 
No entanto, o povo, movido talvez pela
antipatia ao almirante ou por qualquer outro motivo, derrubou as árvores e
arrancou-lhes as raízes, destruindo um melhoramento que teria sido de grande
utilidade, dadas as altas temperaturas, o forte calor e fortes ventos que
assolavam a capital.
Tempos depois outro visitante oferece uma narrativa
mostrando a nova realidade e a perspectiva de soluções para alguns dos graves
problemas de Fortaleza, então com 25.000 habitantes. 


floriano Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
A iluminação pública surgiu em Fortaleza a partir da segunda metade do século XIX. 


A. de Belmar, escreve no
livro Voyage aux Provinces, suas impressões a respeito, de  Fortaleza, uma
cidade nova, de aspecto europeu,  ruas
alinhadas e alguns edifícios de notável elegância, dentre os quais estão o
Palácio do Governo, um  quartel e a Catedral. 
Acrescenta que a cidade contava ainda com um liceu, uma
junta de comércio, hospitais, e, nos arrabaldes, cerca de 1.500 casas de palhas
que abrigavam os pobres. E que não restam dúvidas que o melhoramento do porto e
outras medidas realizadas pelo governo acabarão de assegurar sua prosperidade.

Esta+casa+da+esquina+da+Rua+Conde+D Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
Prédio da primeira Assembleia Provincial, esquina da rua Conde d’Eu e rua Sobral, na Praça da Sé
Evidencia-se que os recursos rudimentares da vela de
carnaúba, de sebo ou de gordura animal de fabricação caseira, e os lampiões,
candeeiros, ou lamparinas com azeite extraído da mamona, são de uso frequente  da população da primitiva vila e no período
inicial da história da cidade de Fortaleza. 
Eram as soluções práticas para
produzir iluminação residencial e os trechos fronteiriços das casas. Era comum
ainda o uso de lenha de árvores resinosas como archotes, nas caminhadas nas
noites escuras, e na queima nos fornos residenciais. 


carnaubeiras Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
   Uma verdadeira maravilha vegetal, particular a este terreno: é a carnaúba ou palmeira cerífera. As folhas são tapeçadas de uma espécie de cera ou sebo, de que os habitantes fazem pequenas candeias. (A. Belmar, em Voyage aux Provinces)

carnaubeiras+as+margens+do+rio+coco+1964 Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
Carnaubeiras às margens do Rio Cocó – 1964
(imagem http://www.ibamendes.com)

Não se tem noticia de qualquer fluxo importador expressivo
de produtos com fins de iluminação, o que pode comprovar a quase exclusiva
utilização dos recursos regionais para suprir o consumo da população. O acesso
fácil a plantas oleaginosas da região indicava a saída natural que a população
de Fortaleza, a exemplo de toda a província, utilizava para a satisfação de
suas necessidades de iluminação, cujas fontes, eram aparentemente inesgotáveis
e de baixo custo.


DSC08838 Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas
As lamparinas à querosene ainda hoje são usadas em algumas localidades do interior do Ceará


Os candeeiros, lamparinas e velas constituem o padrão comum
de artefatos geradores de iluminação nessa fase da vida provincial. Por volta
de 1865, é comercializado também o querosene, que substituirá outros
combustíveis na alimentação das tradicionais lamparinas. E somente quando surge
uma classe mais culta e economicamente mais favorecida são introduzidos no
cenário doméstico o requinte dos lustres de cristais ou castiçais ou
candelabros de prata, por assimilação dos referenciais de elegância e riqueza
próprios dos centros desenvolvidos.
fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro
História da Energia no Ceará,
De Ary Bezerra Leite

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