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A maior preocupação dos pioneiros exibidores de filmes era com o risco de incêndio nos equipamentos. Razões de sobra existiam
para isso, porque nos primeiros tempos, utilizando películas altamente
inflamáveis, improvisando seus salões em locais sem infraestrutura adequada, a
qualquer descuido poderia haver um acidente e destruir o empreendimento,
causando prejuízos materiais e, pior podendo chegar a uma catástrofe, com a
perda de vida de seus frequentadores e funcionários.

O primeiro incêndio registrado em cinema de
Fortaleza ocorreu no dia 29 de setembro de 1902, com prejuízos para o
empresário exibidor Arlindo Affonso da Costa, ex-sócio da Casa Bordallo em
Fortaleza, que retornara do Rio de janeiro com um Cinematógrafo em julho daquele
ano.

Cinematografo3 Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas
Arlindo Costa instalara inicialmente seu aparelho à
Rua Major Facundo, 83, com estreia no dia 9 de junho e exibições contínuas até
o mês de agosto. Verificando que a cidade comportava um espaço de lazer mais
diversificado, nesse mesmo local inaugura o Recreio Cearense, no dia 9 de
setembro, com a festa animada pela banda de música do Batalhão de Segurança,
sorteio de flores entre as senhoras presentes e apresentação do seu “belo
cynematographo”.

O empreendimento de Arlindo Costa foi interrompido
com o incêndio da noite de 29 de setembro de 1902, quando realizava testes com
o aparelho, resultando em prejuízos materiais avaliados em 2 contos de reis. A
imprensa noticiou o sinistro. 

cinema Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas
A ameaça de incêndio perseguia os primitivos
cinematógrafos, e o fogo apareceu na origem dos espetáculos de Cinema, em
Paris, onde se registrou a ocorrência mais devastadora, um episódio que quase
comprometeu irremediavelmente a nova descoberta tecnológica.

Em 1897, ano em que o cinema chegou a Fortaleza, uma
grande tragédia abala Paris e ameaça o futuro do cinema. Na festa beneficente
anual, denominada Bazar da Caridade, patrocinada pela aristocracia francesa, a
grande atração seria o Cinematógrafo. Foi construído para esse fim um pavilhão
de madeira, em área privilegiada dos Champs-Elysées, defronte às propriedades
do Barão de Rothschild. E, extrema imprevidência, dotada de apenas uma porta de
dois metros de largura, abrindo-se para a parte interna. 

Na tarde de 4 de maio
de 1897, encontravam-se no recinto cerca de 1.500 pessoas. Às 16 horas, após a
explosão de uma lâmpada de éter do cinematógrafo, as chamas se propagaram rapidamente,
provocando pânico entre os presentes. O resultado da tragédia foi a total
destruição das instalações e dezenas de corpos carbonizados. No incêndio
morreram personalidades ilustres da sociedade parisiense. 
No final da trágica
noite foram recolhidos cento e onze cadáveres, seus corpos levados para a
Catedral de Notre Dame. Toda a cidade de luto, os teatros fechados, por fim, o
comovente funeral assistido pelo Presidente da França.

Foi o primeiro grande desastre do Cinema que
praticamente viu-se transformado em espetáculo marginalizado e restrito aos
espaços circenses. Mas outros viriam a ocorrer, com a imprensa alertando para
os perigos do cinematógrafo, prejudicando a confiabilidade dessa forma de
diversão.

merceeiros Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas
 O Cine Merceeiros sofreu um incêndio no dia 1° de novembro de 1935, na sessão comemorativa do 5° aniversário. Depois do sinistro, o cinema encerrou as atividades em definitivo.  

Em Fortaleza, além do sinistro no Cinematógrafo de
Arlindo Costa, houve décadas mais tarde, a destruição pelo fogo de dois dos
seus cinemas fixos. No dia 1° de novembro de 1935, na sessão comemorativa do 5°
aniversário, incendiou-se o Cine Merceeiros. O incêndio teve início de uma
faísca desprendida da chave de ligação, em curto-circuito, atingindo os rolos
de fita. Embora o projecionista tenha procurado restringir o fogo, jogando o
material incendiado no chão, as chamas se propagaram. O sinistro determinou o
fechamento definitivo do cinema, mas não fez vitimas entre os espectadores. 

majestic Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas
Praça do Ferreira com o prédio do Cine teatro  Majestic Palace – anos 30

O imponente Cine-teatro Majestic-Palace foi destruído pela ação
de dois devastadores incêndios. Ocupando o terreno aos fundos do edifício de
cinco andares, construído por Plácido de Carvalho, na Praça do Ferreira, perdeu
a sua entrada e a ampla sala de espera com seus espelhos e cartazes, que
ficavam no térreo do edifício, incendiado em 4 de abril de 1955. Uma catástrofe
que consumiu também as Lojas Brasileiras 4.400 e atraiu a atenção da cidade. Sobreviveu
o salão do Cine Teatro, em estrutura metálica, que ganhou uma nova entrada,
mais acanhada, pelos fundos do prédio, à Rua Barão do Rio Branco. 
majestic1 Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas

majestic2 Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas

majestic3 Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas
Incêndio do Cine-teatro Majestic-Palace em 1955 e o que restou do prédio, em fotos da ABA Film 
No segundo
incêndio, no início do dia 1° de janeiro de 1968, o fogo devorou por completo o
tradicional cinema, que já completara 50 anos de atividades. O incêndio foi percebido as 2 horas da madrugada do
dia 1° de janeiro, pelas poucas pessoas que transitavam pela Praça do Ferreira,
que notaram  que havia fumaça no interior
do Cine Majestic. Apesar da ação pronta dos 70 bombeiros e 8 carros comandados
pelo tenente Moacir de Sousa, três horas depois do início do incêndio, só
restaram a sala de espera, a entrada e os dois projetores, encerrados em cabines
de cimento armado. O teto desabou, as cadeiras foram destruídas, assim como os
cartazes.

Com a impossibilidade de debelar as chamas e salvar
o que tinha no interior do cinema, os bombeiros trataram de isolar a Farmácia
Pasteur e a Loja Ocapana  matriz, que
estavam ameaçadas pelo fogo. Às 7:30 horas, depois que o fogo estava completamente debelado, a guarnição do Corpo de Bombeiros regressou ao quartel.

extraído do livro A Tela Prateada, 
de Ary Bezerra Leite
fotos do livro Tela Prateada e do Arquivo Nirez

    

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mfgprodema@yahoo.com.br

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