peste negra da epidemia de varíola, Fortaleza ressurge nos anos seguintes, década
de 1880, repleta de impactantes novidades, retomando com renovada energia o
ritmo de seu processo de modernização. Tão logo a seca e a varíola encerraram
seu ciclo de devastação em 1879, de pronto no ano seguinte, a população pode
tirar o luto, voltar a sorrir, e a passear por dois presentes que a cidade
recebeu e que causaram sensação: os
bondes e o Passeio Público. Inaugurados em
1880, os novos equipamentos reorientaram os usos e costumes nos espaços
públicos.
em Fortaleza no dia 25 de abril de 1880, num empreendimento de
propriedade do Cel. Tomé A. de Mota, denominada Companhia Ferro Carril
do Ceará.No inicio eram 25 bondes,
cada um com capacidade para conduzir 25 passageiros, distribuídos em
cinco bancos. Eram veiculos pequenos, modestos, adornados com cortinas
que protegiam os passageiros do sol e da chuva.
Os bondes puxados a tração animal vieram para suprir a
necessidade de um meio de transporte coletivo para uma cidade que crescia em
espaço e em número de habitantes. Como à época era de um capitalismo que
impunha um ritmo veloz de trabalho e produção, os bondes serviram de trunfo
para a exigência patronal por assiduidade e pontualidade dos trabalhadores. Por
outro lado, os bondes requerem maior extensão de calçamento, reduzindo o areal
que tanto incomodava as pessoas e dificultava o tráfego de veículos. Por conta
do calçamento de ruas, os moradores puderam recorrer, com mais conforto, ao
hábito de sentar em cadeiras nas calçadas ao entardecer.
imobiliária das ruas em que passava, além de ter visto nascer um novo costume:
o flerte entre os passageiros e moças que se postavam às janelas, para ver o
bonde passar.
O Passeio Público, por sua vez, surgiu para satisfazer o desejo por uma área exclusiva de
lazer público que outras grandes cidades brasileiras já possuíam. Deveria ser
um espaço ajardinado, arejado, reservado apenas para a fruição daqueles belos
tempos, onde o footing (passeio a pé), o meeting (encontro entre pessoas) e o
flert (paquera) pudessem ser aprazivelmente praticados.
O Passeio Público foi edificado no antigo Campo
do Paiol, depois denominado Praça dos Mártires em homenagem aos cearenses que
lutaram na Confederação do Equador e que ali foram executados. Sobranceiro ao
mar e bem arborizado, o logradouro foi murado e decorado com estátuas
representando divindades mitológicas gregas, além de canteiros, coreto, café,
passarelas pavimentadas e longos bancos. Atração imperdível às quintas e domingos o Passeio lotava-se de
gente elegante exibindo as últimas novidades trazidas pelos navios vindos da
Europa. A banda municipal embalava os namoros, os flertes e o caminhar de um
lado para outro dos passantes.
O Passeio Público era um lugar para todos, mas
separadamente. O logradouro possuía três
planos; entretanto não havia nenhuma determinação oficial reservando cada um para
as três distintas classes sociais. O fato acabou acontecendo naturalmente, no
dizer de cronistas da época. Mais plausível
considerar que essa separação se deu por força do segregacionismo social já
existente, mas então reforçado pela modernização em curso, que conferia às
elites a primazia dos espaços públicos ora embelezados.
Assim o primeiro plano, o mais bonito, ficou como palco para
deleite das elites, enquanto o segundo e o terceiro foram ocupados,
respectivamente, pelas camadas médias e populares. Desses três planos, apenas o
primeiro resta atualmente. O logradouro manteve sua importância enquanto área
de lazer e sociabilidade até os anos 30, quando começou a sofrer concorrência
de outras atrações ligadas ao entretenimento, como o cinema, os clubes e os
banhos de mar. Seu esvaziamento se completou à medida que o centro, daquela
década em diante, tornou-se basicamente área comercial, forçando o deslocamento
das elites e classe média para outros bairros da cidade.
Se o processo de remodelação de Fortaleza tinha como exemplo
Paris – a metrópole mais civilizada e charmosa do século XIX, e se uma das
marcas registradas desta eram os cafés, onde modernos e literatos celebravam a
alegria de viver daqueles tempos, então a capital cearense deveria tê-los também.
Desta forma, não foi à toa que na década de 80 quatro elegantes cafés, em
estilo chalet francês, surgiram nos quatro cantos da Praça do Ferreira, o
principal logradouro desde a primeira metade do século XIX. Em seu entorno
estavam os principais estabelecimentos comerciais, repartições públicas e o
terminal dos bondes.
Compartilhe com alguém