não é propriamente uma novidade em Fortaleza.
Em 1929, na gestão do Prefeito Álvaro Weine (1928-1930), foi cortado um
oitizeiro centenário, situado no cruzamento das Ruas Guilherme Rocha e General Bezerril,
por trás da Igreja do Rosário. O corte da árvore provocou uma onda de
indignação e revolta na população e nos cronistas que presenciaram o fato. O texto
que se segue, é de autoria de João Nogueira, extraído do seu livro “Fortaleza Velha“.
Talvez, mesmo tenha feito coisa pior: cometido um pecado mortal, mandando matar
o mais antigo dos seus munícipes, este inocente e querido oitizeiro da capela
do Rosário. Cortada a fronde e já
reduzido ao tronco e a dois galhos principais, nos pareceu um supliciado a quem
houvesse dilacerado o corpo e cortado as mãos e que, em um último arranco,
levantasse os braços para o céu clamando vingança (talvez perdão) para os seus
matadores.
alimentado do passado, falando a língua antiga do Ceará que já não entende esta
geração de calças largas e saias curtas. Que amargura não será viver-se tanto
até ficar-se isolado, rodeado embora de uma multidão que não entendemos e que
não nos entende!
degrau para o céu; e que quem destrói outra desce outro tanto para o inferno. Não
sabemos se os deuses da Índia se ocupam com o Ceará; mas, se assim for, o nosso
amável Álvaro Weine estará mal visto por eles.
O nosso Antônio Sales já declarou que “a mão que nunca
plantou uma árvore deixou de fazer um dos mais úteis e belos gestos da vida.”
Que dirá agora o poeta, da mão que matou uma árvore secular, em plena
florescência da vida e que assistiu aos primórdios da Fortaleza?
É verdade que o nosso operoso prefeito há plantado inúmeros fícus
benjamins, os quais, quando crescerem, não só arrebentarão as calçadas pelo
desenvolvimento das raízes, mas também tornarão tenebrosas as nossas célebres “noites
de escuro”.
Melhor fora que arborizasse somente as praças, como sempre
se fez, e deixasse as ruas desentupidas; conservaríamos até a expressão muito
nossa, “lado do sol, lado da sombra”. Quer
uma tradição muito antiga que o oitizeiro da capela do Rosário tenha servido de
baliza às sumacas e jangadas que demandavam o nosso porto, ao tempo em que
Fortaleza era uma aldeia pobrezinha espalhada pelas areias do mar.
Não se sabe ao certo de quando datava aquele oitizeiro.
Antônio Bezerra, diz que há ainda quem se lembre de
tê-lo visto tal qual é hoje (30 de setembro de 1888), no começo do século XIX e
que a ele se prendem lendas interessantes e a tradição é corrente acerca da
veneração que lhe votaram os edificadores da capital.
Diz mais que, em 1862 a Câmara Municipal resolvera alinhar a
rua e derrubar o oitizeiro. Mas o desembargador Jerônimo Martiniani Figueira de Melo, informado do caso, conseguiu
da Câmara que se fizesse um muro em torno da árvore no qual se construíssem assentos.
Assim se fez, e assim se salvou o oitizeiro.
João Brígido conta que, em outubro de 1912, dizia-se na
cidade que o Intendente Municipal mandaria derrubar o oitizeiro ultrassecular
que se encontra à entrada da Rua Bezerril. Foi um horror para muita gente que
professa o culto das árvores e olha para aquela com a veneração que os anos
soem incutir nos amigos das tradições.
Um cajueiro tivemos no começo do século XVIII, no extremo da
rua ora chamada do Cajueiro, que testemunhara a entrada dos primeiros
portugueses nesta terra e à sombra do qual se estabeleceu o primeiro açougue da
povoação. O juiz almotacé o condenou a ser derrubado, o povo se opôs e correu
uma demanda que foi julgada em última instância pelo Tribunal da Relação, que
tinha sede na Bahia. O cajueiro em questão era o mais antigo morador do forte,
alegava-se que por isto, deveria ser conservado, e o Tribunal julgou assim.
Entre nós a população ainda meio bárbara não respeitava as
árvores; nos nossos sertões derrubam-se cedros seculares para, das suas cinzas,
fazer grosseiro sabão.
A árvore em questão estava no quintal de uma casa,
extremo da Rua do Rosário. Em 1863, o desembargador Figueira de Melo, que viera aqui
pleitear uma eleição senatorial, para mostrar-se amigo do povo, fez resguardá-la
dizendo que seria sua filha de então por diante e concorreu com 500$000 para a
compra do terreno que ela ocupava, e a construção de um gradil que existiu por
muito tempo, de modo que tudo ficou sendo do Estado propriamente. Sobre a
aquisição do oitizeiro e a construção da grade protetora há uma outra versão. O
Dr. José Duarte Pimentel, em artigo no Diário do norte, de 1° de outubro de
1912, diz que lhe foi referido pelo falecido Dr. Francisco Cordeiro da Rocha
Campelo, antigo inspetor do Tesouro provincial e pai do Dr. Adolfo Campelo,
provecto e conhecido advogado no foro de Baturité, que o oitizeiro junto ao
muro do palácio foi oferecido pelo finado senador Domingos José Nogueira
Jaguaribe, que o comprara em 1878 por quinhentos mil réis, cuja escritura se
acha depositada no Tesouro; e que o Dr. Paulino Nogueira Borges da Fonseca,
estando na presidência da província, mandou cerca-lo por meio de uma grade de ferro que existia até
bem pouco tempo.
fotos do Arquivo Nirez
fotos da Praça Portugal de março/2014
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