eram mínimos e a indústria de cosméticos apenas se iniciava. Com a cidade
pequena e muita limpa, sem poluição, sem poeira ou fuligem industrial, a conservação da pele era bem mais fácil. Além do mais, as mulheres tinham o corpo
protegido pelas roupas fartas, amplas saias, usavam sombrinhas para defender o
rosto dos raios solares, enquanto as meias de seda filtravam o sol, dando as
pernas um tom de cobre.
Tampouco havia xampu, as mulheres lavavam os cabelos
com raspas de juá, usavam extratos vegetais in natura, para as mais diversas finalidades, como o
óleo de coco, para conservar a cor escura; a mutamba, para fortalecer; a babosa,
para fazer nascer mais cabelos e para criar volume. O chá de camomila mantinha
as madeixas loiras que a luminosidade excessiva da cidade escurecia; sabão de
coco retirava a oleosidade. A janela era o secador natural.
desodorantes que hoje enchem as gôndolas dos supermercados, apenas o Odo-ro-no
e o Magic, que vinham embalados em minúsculos potes de vidro leitoso. Tinham a
forma de gelatina vermelha e um leve e delicado perfume. A aplicação desses
produtos implicava em pequeno ritual que
exigia das mulheres, a extensão de mais alguns minutos após o banho.
(imagem: http://boudoirdamaquiagem.blogspot.com.br)
Essas
pequenas vaidades eram restritas às mulheres, porque os homens nem sonhavam em
usar tais artifícios. Quando muito, uma fricção com limão, no máximo
bicarbonato de sódio.
de sobrancelhas e pó-de-arroz, a escolher conforme a cor da pele. Cilion, uma
gelatina incolor, apresentada em minúsculas bisnagas, servia para aumentar os
cílios, dando um toque vamp às mulheres.
Tanto os batons, como os ruges e esmaltes, tinham uma reduzida linha de
cores. As linhas de produtos eram poucas, predominando a centenária Coty, a
popular Royal-Briar, a sofisticada Helena Rubistein, a suave Mirurgya. A Royal-Briar
era considerada de mau gosto e adotada pelo canelau, porém seu rouge era tido
como o melhor de todos. A Coty fornecia os pós, enquanto a Cutex dominava,
absoluta, o mercado de esmaltes, embora houvesse também o esmalte Fátima.
Fortaleza contentava-se com os institutos de beleza Gabinete Azul, de Abel
Teixeira, na Rua Floriano Peixoto; Madame Santinha, na Rua Barão do Rio Branco,
vizinho à Faculdade de Farmácia e Odontologia; o Hollywood, perto da Gazeta de
Notícias; o Trovador Barateiro, na Rua Guilherme Rocha; Madame Ribeiro, na Rua
Carapinima; Madame Sonsol, na Rua 24 de Maio.
linha de serviços que consistia no corte simples, no corte em camadas, nos frisamentos,
alisamentos e tingimentos, os dois últimos itens, bastante primários e precários,
devido a escassez de técnicas e de produtos adequados.
Os próprios frisamentos
que eram feitos em primitivas máquinas que funcionavam à eletricidade, e de
vez em quando causavam alguns acidentes nos institutos, como cabelos chamuscados,
choques elétricos, muito choro e muita descompostura.
eram raros e não haviam os artistas-maquiladores de hoje; os penteados,
armados, elevados, elaboradíssimos, inspirados nos filmes de Lana Turner e
Linda Darnell, eram mais usados pelas mulheres das pensões alegres.
Estas, por
sua vez, não tinham acesso livre aos salões, ficando na dependência dos
horários predeterminados pelas donas dos estabelecimentos. Misturar uma dama
respeitável da sociedade, e uma mulher-da-vida, seria um escândalo, caso de
polícia. Se o marido da “vitima” fosse influente, poderia até fechar o
instituto.
Alface Brilhante, e as máscaras caseiras, à base de frutas, mel e legumes. Os cabelos
recebiam massagens com mistura de gema e azeite de oliva, com os papelotes
fazendo as vezes dos atuais bobes. Para aumentar os seios e enrijece-los, Pasta
Russa, apresentada em exóticas embalagens de couro marrom. Após o banho, para
manter a sensação de frescor, Água de Colônia Regina, que vinha em frascos de
vários tamanhos.
compreendiam escovas para cabelos e para roupas, pentes, perfumes com bombas de
aspersão, caixas para cremes e os indispensáveis espelhos com cabos. Tudo muito
bonito, em cristal, tartaruga, madrepérola, prata, bronze e outros materiais
nobres.
toucador, massageando-se, depilando-se, besuntando-se,
pois a beleza e a suavidade da pele, o brilho e o vigor dos cabelos eram
preponderantes para a elegância, cujos artifícios de embelezamento
eram mínimos e nem sempre aprovados pelas bíblias da moral e dos bons costumes.
Mulher que carregava um pouco mais na pintura, era logo rotulada de mulher à
toa.
tranças, com laços de fitas; as mocinhas românticas laços ou flores; as mais
maduras, usavam travessas de tartaruga ou galalite. Para as senhoras, as
trunfas as bananas, os coques. As nucas eram protegidas com redes ou tarrafas.
belas, quando precários eram os recursos de maquiagem, quando quase tudo tinha
de ser criado, improvisado, inventado, quando a penteadeira virava laboratório
de pesquisas, quando o quintal e o jardim forneciam a matérias-primas para as
máscaras, as compressas, os banhos aromáticos, os tratamentos de beleza; Quando
as mais românticas aplicavam compressas de chá-preto sobre os olhos, para
adquirirem as olheiras da Dama das Camélias e mostrar mais fragilidade para
impressionar os seus jovens pretendentes.
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Que maravilha de postagem. Voltei num tempo que não vivi, fascinante. Parabéns, este blog é ótimo !!
Parabéns pelo Blog. Vale a pena ver, rever e indicar
Abel Teixeira, o nosso padrinho Abel. Na realidade, ele e sua esposa Maria Hosana, eram padrinhos de minha mãe, Zenaide, que trabalhou como manicure no seu Gabinete Azul, na Rua Floriano Peixoto,1057. Abel Teixeira foi, para mim e meus irmãos, os avôs que não chegamos a conhecer, por terem falecido muito jovens. Padrinho Abel, nascido em 09/07/1893, faleceu aos 89 anos, no dia 30/12/1982.
Corrigindo: Abel Teixeira faleceu em Fortaleza no dia 30/11/1982.