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Antigamente na confluência dos
atuais bairros Otávio Bonfim e Parque Araxá, havia uma lagoa denominada Lagoa
da Onça, localizada a um quarteirão do Cercado do Zé Padre, na Rua Padre Graça.
Naquelas imediações foi inaugurado um cinema, o Cine Nazaré, em 1945, final da
guerra. Por causa lagoa, quando chovia, as ruas ficavam inundadas e o povo
assistia aos filmes no Nazaré, com os pés dentro d’água, mas ninguém reclamava.
O cinema se constituía a grande diversão do bairro, junto com o outro cinema, o
Familiar, localizado em frente a Praça de Otávio Bonfim, que funcionava sob
orientação dos frades franciscanos. Fora os cinemas, só havia as novenas e as quermesses
da Igreja das Dores.


bairro%20otavio%20bonfim Memórias do Cine Nazaré, no Otávio Bonfim (Farias Brito)
Região do bairro Otávio Bonfim, com a Igreja das Dores, e o fundo  estação da RVC
foto do arquivo Nirez


Não havia controle de acesso,
todos podiam entrar, as mulheres geralmente levavam os filhos, mesmo que fossem
crianças de colo, a não ser que o filme fosse censurado, no caso, aqueles de terror,
ou os mais insinuantes, com mulheres de maiô ou cenas de beijos.

O Cine Nazaré foi tão marcante
naquela época, que na exibição do “Ladrão de Bagad” foi necessário abrir uma
segunda seção. Tinha tanta gente esperando do lado de fora e na lateral do
cinema, que o muro caiu. O povo começou a se amontoar e a empurrar. Quando o
muro caiu, quem já estava assistindo o filme nem ligou, continuou assistindo.

A sala cinematográfica tinha
capacidade para 300 pessoas, com dois tipos de ingressos: 200 nas cadeiras com
assento e encosto de madeira e 100 na geral, bem em frente a tela, com bancos
sem encosto. Na geral, onde o preço do ingresso era menos de metade das
cadeiras   (400 reis), quando chovia era
um sufoco, a água minava do chão já que todo o terreno ao redor da Lagoa da
Onça ficava encharcado.

lagoa%20da%20on%C3%A7a%20lucas%20jr Memórias do Cine Nazaré, no Otávio Bonfim (Farias Brito)
Região onde ficava a Lagoa da Onça, nas proximidades da estação da RVC
foto Lucas Jr/Facebook/Fortaleza Antiga

Para minimizar o problema,
oito pisos foram sobrepostos para aumentar o nível do chão, cuja base foi
construída abaixo do nível da lagoa. Nesse caso, havia duas opções: ou o
espectador ficava de cócoras sobre o banco, ou tirava o calçado e ficava com os
pés na água, enquanto assistia o filme. Do lado de fora, esperando os cinéfilos
para o lanche, estavam os vendedores de bolo, tapioca e café. A pipoca ainda
não era moda.           

O primeiro arrendatário do
cinema foi o marchante José Marcelino, que tinha uma banca de venda de carne no
Mercado São Sebastião. Naquela época, final dos anos 40, início dos 50, os
cinemas passaram a ser a principal diversão da cidade. E as salas se
multiplicaram, havia diversas espalhadas nos bairros e no Centro. A partir dos anos
60, os cinemas fora do centro começaram a fechar: encerraram as atividades o
Ventura, na Aldeota, o Dioguinho, na praça do Colégio Militar, e muitos outros.
O Nazaré também fechou. Em 1968 foi a vez do Cine Familiar.


cine%20nazar%C3%A9 Memórias do Cine Nazaré, no Otávio Bonfim (Farias Brito)
Cine Nazaré e seu proprietário Sr. Raimundo Carneiro de Araújo, no centro
foto Diário do Nordeste


O Cine Nazaré fechou e reabriu
muitas vezes, capricho e menina dos olhos do seu proprietário desde 1970, o
radiotécnico Raimundo Carneiro de Araújo, conhecido por Vavá. Foi durante muito
tempo o único (e o último) cinema de bairro da cidade. Mas seu Vavá faleceu
esse ano, em fevereiro de 2022, e levou com ele a luz que guiava os filmes de sonhos
que animavam o Cine Nazaré, agora, definitivamente fechado. 


Fonte: 

Jornal Diário do Nordeste “Cine Nazaré conta a história do bairro”, de 05/06/2006  

  

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0 comentário

  1. Gostaria muito que o poder público assumisse a administração do local e o transformasse em um cinema público, para acesso a cultura dos moradores da região. Viva Seu Vavá!

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mfgprodema@yahoo.com.br