nasceu em Quixeramobim em janeiro de 1804, em dia não especificado. Era a
terceira filha do Capitão-Mor da Vila de Campo Maior de Quixeramobim, José dos
Santos Lessa e de sua esposa e prima cruzada Francisca Maria de Paula.
origens na primitiva capelinha de taipa construída e entregue aos fiéis no ano
de 1732 por Antônio Dias Ferreira.
sido um dos primeiros vereadores daquele município, cargo que voltou a exercer
várias vezes, além de outros cargos públicos. Pelo lado materno, Marica era
neta do tenente-coronel Vicente Alves da Fonseca, cuja propriedade compreendia
praticamente todo distrito de Pirabibu, atual Damião Carneiro. Vicente Alves foi
o construtor do primeiro açude público no Ceará, entre os anos 1770 e 1780.
Marica foi batizada em 11 de abril de 1804, na Igreja matriz
de Quixeramobim, pelo padre José Basílio Moreira, tendo como padrinhos o tio
Vicente Alves da Fonseca Filho e sua esposa, Antônia Geracina Isabel de
Mesquita, cuja filha, Francisca Maria Carolina, viria a ser esposa do senador
Francisco de Paula Pessoa.
idade, Marica Lessa casou-se com Domingos Vítor de Abreu e Vasconcelos, natural
de Goiana, Pernambuco, comerciante de cavalos. Eles não tiveram filhos, e viviam
em certa harmonia, apesar de ser Marica a senhora de todos os bens.
Mesmo assim,
ele veio a se tornar uma figura de prestígio, sucedendo ao sogro na vida
pública de Quixeramobim: juiz de paz, vereador, depois presidente da Câmara,
suplente de juiz municipal, coronel da Guarda Nacional e chefe do Partido
Liberal na ausência do presidente local, Antônio Pinto de Mendonça.
Um dia apareceu na fazenda um sobrinho
do coronel, chamado Senhorinho Antônio da Silva Pereira, foragido da justiça de
Goiana, Pernambuco, onde fora acusado de ser cúmplice no assassinato de seu padrasto. O tio
o acolheu, deu-lhe suporte e, através da política, procurou livrá-lo do
processo. Nesse ínterim, Pereira se estabeleceu na vila com uma casa comercial
e, após liquidar o negócio, passou a viver numa das fazendas dos tios.
marido. Mandou um emissário em segredo a Pernambuco, para averiguar o andamento do processo na
justiça, e tudo fez para atrair sua atenção. Com a chegada do Partido Liberal ao governo, não foi difícil
conseguir a absolvição, e o fato foi comemorado com muita alegria na fazenda de
Lessa.
Quando Senhorinho possuía casa comercial, Marica
tornou-se sua principal freguesa; depois, quando ele passou a cortejar a filha
do juiz, ela não fez questão de esconder seu desagrado, fazendo críticas
mordazes e procurando estorvar o namoro. Convidava-o frequentemente para ir a sua fazenda, a
festas e outros eventos, com o intuito de sempre tê-lo por perto.
Moradores e
trabalhadores da fazenda não demoraram a perceber o interesse da patroa, e logo
surgiram os comentários. Senhorinho igualmente passou a dar cada vez menos
atenção ao tio e protetor. Domingos Vítor via tudo impassível, até que os
rumores chegaram a seus ouvidos.
Dizem que o coronel pensou primeiramente em suicídio,
em vez de reagir contra os dois traidores. Mais tarde, porém, expulsou
Senhorinho de sua propriedade. No entanto, o ambiente na fazenda Canafístula
lhe foi ficando cada vez mais hostil, visto que algumas das pessoas que lá
trabalhavam eram favoráveis a Marica e Senhorinho.
Domingos então se dirigiu à capital Fortaleza, em
busca de Tomás Pompeu de Sousa Brasil, seu líder político, para tratar do
desquite e pedir proteção ao chefe de polícia. De volta a Quixeramobim, não se sentindo
mais seguro na fazenda, Domingos resolveu fixar residência numa das casas da
vila, recebendo proteção da polícia, com acompanhamento discreto de um soldado
sempre que saía de casa.
Enquanto isso, Marica estaria planejando um meio de
dar fim à vida do marido. Teria, primeiramente, mandado buscar um criminoso que
acoitara e que se refugiava no Riacho do Sangue, mas este terminou não
cumprindo sua ordem.
Marica então pediu ajuda a Francisco dos Santos, um
retirante da seca de 1845 que por ali se fixara e que se tornara seu compadre,
dando todo seu apoio ao romance entre ela e Senhorinho. Silveira indicou-lhe
para executor do crime o escravo Manuel Ferreira do Nascimento, vulgo Corumbé,
afilhado de Marica e de Domingos.
de uma protegida de Marica, entre os animais, para fugirem após a consumação do
crime.
Corumbé dirigiu-se então à casa do padrinho, aproveitando-se de sua
familiaridade para entrar. O coronel Domingos Vítor, que se encontrava fazendo a
barba, ao ver o afilhado, cumprimentou-o e virou-se para guardar a tesoura.
nas costas. Domingos caiu gravemente ferido, mas ainda conseguiu gritar para a
cozinheira pedindo socorro. Esta saiu à rua em busca de auxílio, e logo apareceram
várias pessoas, inclusive o vigário, que retirou o punhal e perguntou quem o
havia golpeado. Domingos denunciou Corumbé e em seguida expirou.
todo encourado, tinha dificuldade de se locomover. Confessou o crime, acusando
Marica Lessa de ser a mandante do crime. Ao saber da prisão de Corumbé, Francisco
dos Santos fugiu e nunca foi encontrado pela polícia.
O sepultamento do coronel Domingos foi realizado no
mesmo dia, em 20 de setembro de 1853, na igreja matriz de Quixeramobim, o qual
foi um dos mais concorridos que aquele município já presenciara. Durante muitos
anos, na casa onde aconteceu o crime, ainda era possível ver impresso na parede
da sala de estar, a mancha da mão ensanguentada do coronel, que ali se apoiara
após passar a mão na ferida. A crendice popular dava a essa mancha um caráter
de um pedido de justiça, partido de uma alma no limiar da eternidade, o que
teria motivado sua conservação por muitos anos.
Marica e Senhorinho foram presos no dia seguinte ao crime,
recolhidos à cadeia pública de Quixeramobim, onde já estava Corumbé, assistidos
pelo vigário e pelo juiz de direito.Por medida de segurança, o destacamento de polícia
foi reforçado, mas, tendo em vista as despesas que isto acarretaria, o chefe de
polícia preferiu transferir os presos para Fortaleza. Marica Lessa foi a
cavalo, enquanto que os outros presos fizeram o trajeto a pé, amarrado com
cordas. Eles deram entrada na Cadeia Pública de Fortaleza em 8 de novembro de
1853.
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Prédio da Cadeia Pública de Fortaleza |
O julgamento de Marica e Senhorinho só veio a acontecer
mais de dois anos depois do crime. Além disso, durante esse período, em outubro
de 1856, houve uma fuga de presos da Cadeia Pública, entre os quais, estava
Corumbé, o executor material do assassinato.
Marica Lessa enfim foi a júri nos dias 14 e 15 de
abril de 1856. Embora alegando inocência, foi condenada a vinte anos de prisão
com trabalho e custas. Senhorinho foi julgado quatro dias depois, tendo sido
condenado a apenas quatro anos de prisão.
Corumbé permaneceu foragido até junho de 1861,
quando foi encontrado numa fazenda que pertencia a uma cunhada de Marica. Ele
foi levado a júri duas vezes: em 5 de abril de 1862 e em 12 de novembro de
1864. Não se sabe ao certo qual teria sido a penalidade imposta, mas acredita-se
que Corumbé tenha terminado seus dias no presídio de Fernando de Noronha.
Como o Ceará não possuía Tribunal de Relação, Marica
recorreu de sua sentença para o Tribunal de Pernambuco, ao qual a província
era subordinada. Todavia, o novo veredito foi mais rigoroso, impondo-lhe trinta
anos de prisão. Logo após o julgamento, foi abandonada por Senhorinho, que
obteve da Justiça Imperial o direito de cumprir sua pena em Belém.
Marica teve que vender todas as suas propriedades
para arcar com as despesas de advogado e outros gastos com o processo. Dentre
essas propriedades, estava a fazenda conhecida hoje como Massapê Grande, que
ela vendeu em 23 de agosto de 1856 a Antônio Ferreira Severo, por cem mil réis.
As outras foram sendo vendidas seguidamente até não restar uma sequer.
passou a vagar pela cidade de Fortaleza como mendiga. O escritor Gustavo
Barroso, que a conheceu pessoalmente em seus últimos anos, descrevia-a como “uma
velha desgrenhada, farrapenta e suja, que a molecada perseguia com chacotas a
que ela replicava com os piores insultos”. As chacotas sempre faziam referência
ao assassinato de seu esposo, cuja culpa ela sempre negou com veemência.
das poucas mulheres a cumprir pena por assassinato Maria Francisca
de Paula Lessa, conhecida por Marica Lessa, foi acusada de haver mandado matar o
marido, sendo condenada a 30 anos de prisão. Depois de anos sofrendo na cadeia,
ganhou a liberdade e passou a mendigar pelas ruas da cidade. A história
de Marica Lessa foi romanceada pelo escritor Manuel de Oliveira Paiva no
livro “Dona Guidinha do Poço”.
A história de Marica Lessa foi contada com
fidelidade, apesar das trocas dos nomes, por Manuel de Oliveira Paiva, escrito quando o autor foi a Quixeramobim tratar
da saúde, em 1891, mas que só veio a ser publicado sessenta anos depois, por
iniciativa da escritora Lúcia Miguel Pereira. A obra é considerada por muitos
um clássico do realismo brasileiro. Em 1963, o historiador e escritor Ismael de
Andrade Pordeus publicou “À Margem de Dona Guidinha do Poço”, em que dá a
versão histórica do caso.
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Não há data da morte dela?
Muito legal.. encontremos la na Fazenda canafistula velha as ruínas da casa dela onde tudo aconteçeu. Os tanques de pedra onde curtia o couro e o cemitério dos escravos