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Uma das várias versões para a
origem da família Feitosa, é que o tronco do clã é um português de nome
João Alves, nascido numa ilha chamada Feitosa. Daí que ficou conhecido como
João Alves Feitosa que um dia deu com os costados em terras brasileiras;
teria, supostamente, chegado ao Brasil na primeira metade do século XVII,
casando-se com uma filha do coronel Manuel Martins Chaves, alagoano de Penedo.
Tiveram dois filhos: o comissário Lourenço Alves Feitosa, casado com Antônia de
Oliveira Leite, e o coronel Francisco Alves Feitosa, casado com Isabel do
Monte.


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As Sesmarias eram terrenos doados pelo governo português para exploração e povoamento. Eram preferencialmente instaladas próximas a cursos d’água,  como o Rio Jaguaribe (foto do IBGE nos 60) 


Residentes no Engenho Currais
de Serinhaém, em Pernambuco, a família Feitosa, que se supõe haver-se
comprometido em levantes ocorridos na província, e temendo sofrer perseguições,
fugiu para o interior do Ceará, onde se fixou nas proximidades do Icó. Lourenço
Alves Feitosa, o chefe da família, que aqui tomou o título de Alferes
Comissário, deixou sua família em Pernambuco e veio em companhia do irmão, Francisco
Alves Feitosa, do Coronel Pedro Alves Feitosa e de Manuel Ferreira Ferro. Lourenço
se estabeleceu na Fazenda Cachoeirinha, que adquiriu no riacho Cariuzinho.


Francisco Alves Feitosa se
casou com uma viúva irmã do Capitão- Mor Geraldo do Monte, e em pouco tempo os
cunhados se desentenderam por questões de negócios e de posse de terras. Os coronéis
Francisco Alves Feitosa e Lourenço Alves Feitosa ao chegarem ao sertão dos
Inhamuns estruturam a maior comunidade rural da Capitania do Ceará. O
comissário Lourenço Alves Feitosa chegou a ter 22 sesmarias e com o seu irmão
Francisco Alves Feitosa dominaram uma área de aproximadamente 30.000
quilômetros quadrados.


A família da esposa de
Francisco Alves Feitosa, era contemporânea dos Feitosas, cujo chefe era Geraldo
do Monte, procedente da Vila de Penedo, que veio para a Capitania do Ceará trazendo
consigo filhos, sobrinhos e outros parentes que se espalharam pelos sertões,
adquirindo fazendas de criar gado, nos últimos anos do século XVII ou início do
século XVIII.

 

Francisco do Monte, irmão de
Geraldo, fixou-se no Icó, e lá perdeu uma filha, que para pesar de sua mãe, foi
enterrada no campo por falta de uma igreja. Seu marido para a consolar,
prometeu que os restos mortais da filha seriam transferidos para uma igreja, e
para isto, tratou de estabelecer um patrimônio de meia légua de terras, no
centro do qual edificou uma capela a Nossa Senhora da Expectação, ainda na
primeira metade do século XVIII. Algum tempo depois a capela serviu de matriz à freguesia criada no Arraial do Icó.


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Igreja N.S. da Expectação, em Icó, era originalmente uma pequena capela construída por Geraldo do Monte (imagem IBGE)


Francisco Alves Feitosa,
receoso da fama de valente de seu cunhado Geraldo do Monte, retirou-se para uma fazenda que
possuía na ribeira dos Bastiões, e durante sua estadia naquele sítio travou
relações com o chefe da tribo dos índios Jucás, que o levou a um local onde
assistiam na ribeira do riacho Jucá, um dos afluentes do Jaguaribe, que se
lança nele, abaixo de Arneirós.


Os Feitosas foram informados
por esse irmão da grande oportunidade que era essa ribeira para a criação de
gado, e resolveram solicitar por sesmaria, mas não guardaram o devido sigilo, e
Geraldo do Monte, informado das descobertas feitas pelos Feitosas, então seus
inimigos declarados, antecipou-se ao cunhado e solicitou a posse dos terrenos
de Jucá, no que foi atendido.


Mas a concessão de sesmarias
estava sujeita a prazos para ocupação, demarcação e medição das terras. Como
esse prazo não foi cumprido, Francisco Alves Feitosa conseguiu, 6 anos depois,
anular a concessão dada a Geraldo do Monte, obtendo a posse do território do qual
fora descobridor, e providenciou a medição e ocupação.


Geraldo do Monte, despeitado com
a atitude do cunhado, tentou de todas as maneiras evitar a posse dos
terrenos. Depois de uma longa questão entre os dois poderosos rivais, estes
acabaram lançando mãos das armas e deram início a um longo conflito entre as
duas famílias. A partir dessa primeira desavença, houve uma série de confrontos
que foram ficando cada vez mais mortíferos. Os chefes de uma e outra parte
viviam incessantemente debaixo de armas e prontos a atender a qualquer demanda.
Toda a capitania acabou sofrendo as consequências dessa luta. A população,
refém, viu-se obrigada a pronunciar-se em favor de uma ou de outra parte,
porque a neutralidade era vista como crime capital.


Os Feitosas abandonaram as
imediações do Icó território dos inimigos e foram se aquartelar nas terras do
vale do Jucá e do Alto Jaguaribe, cuja população se pronunciou a favor deles.
Dos encontros sangrentos havidos entre os dois grupos, muitas localidades
receberam denominações que ainda conservam, provenientes de algum episódio
desta contenda. Na Ribeira do Salgado existem o Sítio das Emboscadas, Tropas,
Arraial da Pendência; no Jaguaribe encontra-se o das Almas, dos Defuntos, dos
Ossos, das Trincheiras, do Bom Sucesso, o Saco das Balas e muitos outros,
celebrizados por algum incidente sinistro.


O conflito teve início em 1714
e terminou em 1724, depois de muitas intervenções do governo, que nomeou
juízes, mediadores, ouvidores e até governadores para intermediarem a contenda.
As mortes de indígenas, colonos, fazendeiros foram incontáveis, visto que não
havia controle sobre os embates. Depois que o governador da capitania decidiu desarmar as duas famílias e sendo o coronel Feitosa avisado por um oficial, refugiou-se em sua fazenda Buriti, no Piauí. Já Geraldo do Monte foi forçado a abandonar sua fazenda das Cabaças, recolhendo-se ao Boqueirão, na margem do Jaguaribe, onde se supõe, terminou os seus dias.  


O comissário Lourenço Alves
Feitosa, que foi o maior sesmeiro do Ceará, perdeu mulher e seu único filho, e
quando faleceu deixou toda a sua fortuna para seu irmão Francisco Alves
Feitosa, que passou a condição de maior latifundiário do sertão dos Inhamuns.


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Sertão dos Inhamuns – imagem recente (fonte Diário do Nordeste)


Os descendentes dos Feitosas continuaram a ocupar a região, no sertão dos Inhamuns, onde fundaram a Vila de
Cococi, situada dentro de uma grande fazenda. Depois foi elevado à categoria de
Distrito, anexado ao município de Tauá. Em 1956, o distrito do Cococi passou a
fazer parte do recém-criado município de Parambu. Pela lei estadual nº 3858, de
17 de outubro de 1957, o distrito de Cococi foi elevado à condição de
município, desmembrado de Parambu.


No Censo demográfico realizado
em 1960, o município do Cococi contava com 4.064 habitantes, 2.181 homens e
1.883 mulheres.
Passados pouco mais de oito anos, uma nova lei
estadual, a de n° 8339, de 14 de dezembro de 1965, extinguiu o município de
Cococi que voltou a ser distrito subordinado a Parambu.


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Casa abandonada no Cococi (imagem Pinterest)

Os motivos nunca ficaram
claros: a versão mais conhecida conta que o prefeito teria cometido
irregularidades como desvio de verbas destinadas ao município, o que teria
desagradado ao Governo Federal, que teriam determinado a extinção. Mas podemos
observar que a extinção de Cococi foi viabilizada por meio de uma lei estadual
(8339), no Governo Virgílio Távora (1963-1966). Pelo mesmo instrumento legal,
vários municípios cearenses foram extintos, sendo que a maioria teria essa
condição revogada mais tarde, recuperando o status de cidades com autonomia
administrativa. 

   

Na sua curta existência como
município, Cococi teve 2 prefeitos, ambos da família Feitosa. O município
estava instalado em terras particulares, de uma única família. À época da
extinção, o prefeito, secretários e vereadores tinham todos o mesmo sobrenome
Feitosa. Tinha uma boa estrutura, contava com prefeitura, câmara municipal, uma
praça, hotel, cartório, posto fiscal, escola, amplas residências e uma igreja
matriz.


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Igreja de N. S. da Conceição, no Cococi, construída em 1771 pelo coronel Francisco Alves Feitosa. (imagem Diário do Nordeste)


A cidade e atual distrito do Cococi nasceu com a chegada
dos Feitosas e morreu aos poucos, à medida que eles se foram. Dos velhos
tempos, restaram a igreja matriz, uma meia dúzia de moradores, e quase nenhuma
expectativa, a não ser a vinda de alguns curiosos, que de vez em quando visitam
as ruínas e o velho cemitério, que paradoxalmente, são as maiores atrações do
lugar.

 

Fontes consultadas:

O Clã dos Inhamuns, de Nertan
Macedo. Edições UFC, 1966

IBGE – Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros – 1959

O Ceará dos Anos 90, censo
cultural.

A Memória dos Conflitos
Territoriais entre Famílias na construção da Sociedade nos Sertões dos
Inhamuns, de Cristiane e Castro Feitosa Melo. Disponível em 
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/24857/3/2012_art_cecfmelo.pdf

  

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0 comentário

  1. Ao ler essa reportagem, vê-se muitos equívocos. Em verdade, nunca existiu a figura de Geraldo do Montes e Silva. Existiu a figura de Francisco do Montes e Silva; Cococi foi desmembrado de Taua em 1957 e teve três prefeitos. Ademais, poderia citar vários outros equívoco s.

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