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Era o dia 18 de agosto de 1942. Tudo começou tão de repente
que nunca se soube ao certo como teve início, e quem liderou. A turba furiosa
avançou sobre todos os estabelecimentos, escritórios e até residências de
cidadãos das chamadas nações integrantes do Eixo. Alemães, italianos e japoneses,
e seus descendentes, foram alvo de incontrolável manifestação de ódio por parte
da massa insatisfeita, com a posição dúbia do governo brasileiro em relação ao
conflito.  O povo não admitia a posição
oficial brasileira, refletindo a ideologia fascistoide do Estado Novo de
Getúlio Vargas. 

jantar+do+rotary+club+no+palace+hotel+o+palace+era+em+frente+ao+passeio+publico+em+1936+com+a+bandeira+da+suastica+e+da+alemanha De Flores e Guerras
Jantar do Rotary Club no Palace Hotel, em 1936, onde estão as bandeiras da Alemanha e da Suástica. As boas relações entre os dois países, fez com que o Governo de Vargas demorasse a assumir uma postura frente ao conflito mundial. (foto Nirez) 

Durante a manifestação de 18 de gosto, a turba desenfreada
buscou além dos estabelecimentos dos súditos do Eixo, também as casas
comerciais cujos proprietários teriam tido ou ainda tinham ligação com o
Integralismo.
No meio da multidão, alguém gritava o nome de uma loja
qualquer como de propriedade de um integralista. E logo a violência se voltava
contra ela. Assim aconteceu com “ O Gabriel”, veterano estabelecimento
comercial de miudezas, localizado à Rua Floriano Peixoto, em frente à sede dos
Correios. Seu proprietário, Gabriel Jardim, era uma figura conhecida por na cidade.
Sua loja era a maior venda de imagens de anjos e santos, ramo em  que também se especializou outro comerciante
muito católico, “O Epitácio”. 

o+gabriel De Flores e Guerras

Como a Igreja católica tinha naquela fase histórica,
profunda inclinação direitista, com numerosos membros militando no
Integralismo. Gabriel, por certo sem nenhum embasamento ideológico,
aproximou-se dos “camisas verdes”.
Outros estabelecimentos atingidos pelas mesmas razões, foram
a loja “A Cruzeiro”, que por essa época funcionava nos baixos do Excelsior
Hotel e o armarinho “Ubirajara”, na Major Facundo quase esquina com a Guilherme
Rocha.

lojas+pernambucanas De Flores e Guerras
A loja Pernambucanas foi incendiada e saqueada. (foto do Livro Ah, Fortaleza!)

Outro alvo das manifestações de ódio foi o japonês Guilherme
Fujita  (nascido Jusaku Fujita) que
cultivava um jardim e fornecia flores para as cerimônias festivas ou tristes da
Fortaleza provinciana daquela primeira metade do século.
Com o fruto do seu trabalho árduo, o imigrante japonês
mantinha com desvelo e carinho a numerosa prole nascida no Estado do Ceará.
Ignorando esse fato, na irracionalidade das atitudes das massas descontroladas,
os manifestantes invadiram o bucólico Jardim Japonês, no Otávio Bonfim,
destruindo tudo e ameaçando a própria vida da família oriental.
Vizinhos que presenciaram o drama protegeu a família
da ameaçadora agressão. Durante vários dias os Fujitas tiveram o abrigo de
pessoas amigas, numa prova de que em momentos de insanidade coletiva, muitos
conseguem manterem-se serenos e lúcidos, para impedir as consequências mais
graves do desvario geral.
Terminada a guerra, superadas as desavenças, o japonês Fujita conseguiu se recuperar voltou a trabalhar com suas rosas e flores no Jardim Japonês, que funcionou no seu antigo local, na atual Avenida Bezerra de Menezes, onde hoje se encontra um supermercado,  até a década de 60.

fontes:
Blanchard Girão em O Liceu e o Bonde
Jornal O Povo

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mfgprodema@yahoo.com.br

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