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pra%C3%A7a+clovis+bevilaqua+caixas+dagua1 Cidade nas Antigas
Praça Clóvis Beviláqua, antiga Praça de Pelotas

Na Fortaleza de muito tempo atrás havia na Praça de Pelotas,
mongubeiras centenárias que foram criminosamente destruídas, a despeito da
simetria e ordem com que foram plantadas pelos primeiros viajantes que iam e
vinham das bandas do Arronches. Outrora sem palacetes, sem casas modernas e sem
o belo edifício da Faculdade de Direito, atrás do qual se levantavam as duas
caixas d’água que serviram à população urbana, tinha a praça o encanto das
coisas silvestres e a utilidade dos parques infantis. 

pra%C3%A7a+do+carmo Cidade nas Antigas
 Praça do Carmo no antigo Boulevard do Livramento, atual Avenida Duque de Caxias

Um pouco mais para leste
havia o Largo do Livramento, com o nicho da pequena imagem da Virgem ainda hoje
exposta à veneração dos fiéis na matriz do Carmo. E passando pelo Alto da
Pimenta e pelo Garrote, existia adiante o Pajeú, ao longo do qual foi
construído o primeiro açude do Ceará, por iniciativa do Senador Alencar quando
Presidente da Província e melhorado na seca de 1877 pelo Barão de Sobral. 
Nesses tempos antigos desenvolvia-se pacatamente a vida de alguns milhares de
cearenses, com seus costumes infelizmente desaparecidos, como os Fandangos,
auto popular que relembra a conquista da África, as Pastorinhas, com sua
ingênua representação do Natal do Menino Jesus, as procissões, principalmente a
dos Passos e a do Enterro, esta na Semana Santa, e aquela na penúltima semana
da Quaresma.

   

santa+casa+de+misericordia Cidade nas Antigas
Rua Barão do Rio Branco com o prédio da Santa Casa da Misericórdia
 

Os dois cortejos saíam da
Sé, o primeiro à tarde e o segundo à noite. A procissão dos Passos percorria a
Rua Castro e Silva até a Rua Barão do Rio Branco alcançando a Praça do Ferreira
pela Rua Guilherme Rocha e depois a Praça General Tibúrcio, onde encontrava
outra procissão menor, que transportava o andor de N. S. das Dores. 

Na
sexta-feira da Paixão saía a procissão do Enterro, partindo da Sé pela Rua
Castro e Silva até a Barão do Rio Branco, dobrando em direção ao mar para
alcançar a capela da Santa Casa da Misericórdia, com círios iluminando as ruas
escuras. 

rua+castro+e+silva Cidade nas Antigas
 Rua Castro e Silva, percurso das procissões e dos enterros que saíam da Igreja da Sé

Impressionavam estes cortejos noturnos, como impressionantes
eram também os enterros daquela época, todos solenes e a pé. À frente, a cruz
alçada e o padre paramentado. O caixão carregado pelos amigos e parentes ou por
quatro gatos pingados – origem da expressão popular – de andar lento,
sobrecasacas negras e cartolas de oleado. Somente homens acompanhando, todos de
preto, silenciosos. Se o falecido era importante, socialmente falando, o
cortejo terminava por uma banda de música tocando funeral.

pra%C3%A7a+jose+de+alencar+ao+fundo+a+igreja+do+patrocinio Cidade nas Antigas
 Praça José de Alencar, com a Igreja do Patrocínio ao fundo. Fim do século XIX/início do século XX

Para neutralizar tanta seriedade, havia o Judas, nos
chamados Sábados de aleluia. Havia os famosos, como o do Teodureto, bodegueiro
estabelecido no começo do Calçamento de Messejana,  que soubera certa vez, defender seu Judas da
investida dos cadetes da Escola Militar, desbaratando-os e pondo em fuga vários
deles que pretendiam furtá-lo.
Todos queimavam seus Judas, grandes e pequenos, aprimorados
ou grosseiramente vestidos, cheios de taquaris ou de palha seca adquirida nas
carpintarias da cidade. E após liam-se os testamentos. Eram os do Outeiro, os
de Arronches, os de outros arrabaldes da cidade. Criticando a todos,
principalmente os avarentos da pacata e encantadora capital de outrora.

rua+24+de+maio+com+guilherme+rocha+e+pr%C3%A7a+jose+de+alencar+1910 Cidade nas Antigas
   Rua 24 de Maio chegando na Praça José de Alencar – 1910

Completando a alegria esboçada na véspera da ressurreição,
as festas de junho – Santo Antônio, São João e São Pedro – concorriam para a
diversão de um povo que não dispunha ainda do cinema nem dos clubes sociais. Fogueiras
de cavacos e paus velhos enfiados numa barrica, em pleno centro das ruas.
Parentescos hipotéticos – compadres, primos, afilhados. Fogos e alegria. Fortaleza,
século XIX.
 
fotos do Arquivo Nirez
extraído do livro de Mozart Soriano Aderaldo
História Abreviada de Fortaleza e Crônicas  sobre a Cidade Amada 
 

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0 comentário

  1. amigo, andei perguntando em alguns estabelecimentos que vendem redes na cidade, e alguns até conhecem o produto, mas ninguém tem pra vender. Um dos fabricantes disse que fez uma encomenda, mas ainda não recebeu.

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mfgprodema@yahoo.com.br