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A história da Radiodifusão no
Brasil começa oficialmente no dia  7 de
setembro de 1922, com a transmissão um discurso do então Presidente Epitácio
Pessoa, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Porém a
instalação do rádio de fato ocorreu efetivamente alguns meses depois, em 20 de
abril de 1923 com a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A existência
do rádio foi possibilitada pela união de três tecnologias: a telegrafia, o
telefone sem fio e as ondas de transmissão.



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cartão de divulgação distribuído pela Rádio Iracema (imagem internet)


A emissora pioneira não tinha
vínculos governamentais nem patrocinadores empresariais, legalmente,
constituiu-se sob a forma de associação, reunindo inúmeros associados, popularmente
chamados filiados, que contribuíam mensalmente com certa quantia monetária para
mantê-la e cobrir as despesas normais de funcionamento.


Seus idealizadores foram
intelectuais de diversas áreas, influenciados por Henrique Morize e Edgar
Roquette-Pinto, e a emissora tinha uma proposta de caráter educativo, inclusive
com aulas disciplinares na programação. Em fins dos anos 1920, surgiu uma outra
emissora que revolucionou a maneira de fazer rádio no Brasil. Trata-se da Rádio
Mayring Veiga, também no Rio de Janeiro, que se tornou a primeira emissora
comercial do país e criou o rádio espetáculo, com apresentadores e cantores
fixos, e programação que serviu de   modelo
para diversas emissoras criadas no país naquele período.


No Ceará, a primeira emissora
oficialmente instalada, foi a Ceará Rádio Clube – PRE 9, inaugurada em 1934, iniciativa
do comerciante José Demétrio Dummar, sírio que migrara para o Ceará em 1910. Dummar
já vinha fazendo diversas experiências para instalar uma emissora de rádio
local desde 1931. Mesmo ainda não tivesse emissoras no Ceará, os aparelhos de
rádio podiam captar sinais de emissoras de outros estados e até do exterior.



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Fachada do prédio da Ceará Rádio Clube, em 1936, no bairro Damas  (fotos Rádio Universitária)

Ceara%20radio%20clube%20Edificiocantoras Cem Anos do Rádio no Brasil

Programa de auditório na Ceará Rádio Clube: a partir da esquerda: Keyla Vidigal (cantora); Barbosa (locutor-radioator); Nozinho Silva (cantor); Mirian Silveira (radioatriz); Ismy Fernandes (radioatriz); Guilherme Neto (cantor e produtor); João Ramos (locutor-apresentador); Maria José Braz (radio atriz); Laura Santos (radio atriz) e Marilena Romero (cantora).

do livro de Marciano Lopes – Os Dourados Anos


A PRE-9 começou a funcionar
precariamente em 1933, sendo oficializada a 30 de maio do ano seguinte.  O número de aparelhos era reduzido – na
verdade, era um artigo de luxo, acessível a poucas pessoas, da mesma forma que
era o aparelho de TV na época da inauguração da televisão no Ceará, em 1960 –
embora, depois tenha se popularizado.


Apenas em 1948 a PRE-9
ganharia uma concorrente, com a inauguração da Rádio Iracema de Fortaleza, iniciativa
dos irmãos José e Flávio Parente, associados a José Josino da Costa. A nova
emissora foi instalada no Edifício Vitória, na esquina das ruas Guilherme Rocha
e Barão do Rio Branco, onde ocupava o segundo andar e a “terrace” da cobertura.


O rádio viveu seu apogeu nos
anos 40 e 50, e ao final da década de 1950, Fortaleza é a sétima capital
brasileira com cinco estações de rádio: Ceará Rádio Clube, Rádios Iracema,
Uirapuru, Verdes Mares e Dragão do Mar. Entrevista personalidades e políticos,
cobre partidas de futebol, transmite concursos de misses, encena grandiosas
novelas,  populariza cantores, atores e
locutores e conta, para quem está em casa, as tragédias e comédias das ruas.



uirapuru Cem Anos do Rádio no Brasil

Prédio da Rádio Uirapuru, no centro, na esquina das ruas Clarindo de Queiroz e general Sampaio (imagem Arquivo Nirez)

Não se efetivavam inaugurações
ou comemorações oficiais sem a presença de microfones. O rádio está em toda a
parte, fala dos estádios, dos teatros, do Palacio da luz, do Aeroporto; não
falta nem às festas públicas nem às despedidas dos que se vão.



radio_nacional_2 Cem Anos do Rádio no Brasil

Auditório da Rádio Nacional no Rio de Janeiro (foto agência Brasil EBC)


Um capítulo à parte no rádio
cearense, foram os programas de auditório, criados na Rádio Nacional, no Rio de
Janeiro, e que aqui se tornaram célebres, com apresentadores e estrelas locais,
apresentados nas dependências da Ceará Rádio Clube e Rádio Iracema de
Fortaleza. Os auditórios eram frequentados por todas as classes sociais e até a
chamada classe A comparecia, a prova eram os carrões da época estacionados em
volta das sedes da PRE-9 e da Rádio Iracema: “Cadilaques, “Aero-Willys” e “Chambords”.
Sem outras opções além dos cinemas e das sorveterias, os programas de auditório
eram um convite à descontração e ao mais puro relax.

    

Nas palavras de Marciano Lopes,
o rádio praticado no Ceará nas décadas 40 e 50, tinha o glamour que naqueles
tempos coroava todos os acontecimentos relacionados com a arte. E se o rádio
não tinha a magia da imagem, como o cinema e a já emergente televisão, possuía,
por outro lado, o fascínio e mistério daquilo que não se vê, só se ouve.


O rádio foi o principal
veículo de comunicação no Estado até 1960, quando a televisão se tornou uma
realidade para os cearenses, dez anos depois de chegar ao Brasil, o que não
impediu a criação de novas emissoras de rádio a exemplo da Rádio Assunção,
criada em 1962.


A pegadinha de Orson Wells

 

Orson Cem Anos do Rádio no Brasil


O poder da rádio sobre o
comportamento das pessoas ficou comprovado com o histórico episódio de “A
Guerra dos Mundos”, uma transmissão radiofônica feita nos Estados Unidos, por
Orson Wells, em 1938. 

 

Na noite de 30 de outubro, a
rede de rádio CBS interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta
invasão de marcianos. A “notícia em edição extraordinária”, na
verdade, era o começo de uma peça de
radio teatro, que não só ajudou a CBS a
bater a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias
cidades norte-americanas. “A invasão dos marcianos” durou apenas uma
hora, mas marcou definitivamente a história do rádio.


O programa narrou a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves
extraterrestres à cidade de Grover’s Mill, no Estado de Nova Jersey. A
adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido
ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles.


A dramatização, transmitida às
vésperas do halloween (dia das bruxas), em forma de programa jornalístico, tinha todas as
características do radio jornalismo da época, às quais os ouvintes estavam
acostumados. Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam
vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos
sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e
comentaristas. Tudo dava impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo.


A CBS calculou, na época, que
o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o
sintonizou quando já havia começado, perdendo a introdução que informava
tratar-se do
radio teatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão de pessoas
acreditou ser um fato real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo
era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefônicas, com
aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados
tentando fugir do perigo.


O medo paralisou três cidades
e houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a
CBS transmitia e onde Welles ambientou sua história. Houve fuga em massa e reações
desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. O jornal Daily News
resumiu na manchete do dia seguinte a reação dos ouvintes: Guerra falsa no
rádio espalha terror pelos Estados Unidos”
 

  

 

Fontes consultadas:

LOPES, Marciano. Coisas que o
Tempo Levou. A Era do rádio no Ceará. Fortaleza, 1994.

Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro. Disponível em https://atlas.fgv.br/verbetes/radio-sociedade-do-rio-de-janeiro

Jornal Diário do Nordeste –
edição de 22.12.2007

1938: Pânico após transmissão
de Guerra dos Mundos. Disponível em https://www.dw.com/pt-br/1938-p%C3%A2nico-ap%C3%B3s-transmiss%C3%A3o-de-guerra-dos-mundos/a-956037

 

  

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mfgprodema@yahoo.com.br