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Os trilhos dos bondes marcavam o limite dos arrabaldes
da Fortaleza dos anos 30. A cidade com menos de 200 mil habitantes, dormitava
tranquila sob a proteção dos guardas civis com seus apitos e seus cassetetes de
madeira, únicas armas disponíveis para impedir a ação de algum transgressor
perdido na noite. Mas nem todos os bairros eram servidos pelos barulhentos tramways da companhia anglo-canadense.
da Fortaleza dos anos 30. A cidade com menos de 200 mil habitantes, dormitava
tranquila sob a proteção dos guardas civis com seus apitos e seus cassetetes de
madeira, únicas armas disponíveis para impedir a ação de algum transgressor
perdido na noite. Mas nem todos os bairros eram servidos pelos barulhentos tramways da companhia anglo-canadense.
Avenida Barão de Studart, final dos anos 30
Por esse tempo apareciam os primeiros ônibus a
gasolina, servindo a linhas mais distantes e até algumas próximas ao centro.
Pioneiros nesses serviços, Francisco Anísio de Oliveira Paula – pai do famoso
humorista que lhe emprestou o nome – com sua empresa São José, e Oscar Pedreira,
que atendia aos bairros do Jacarecanga e o então Brasil Oiticica, hoje Carlito
Pamplona.
gasolina, servindo a linhas mais distantes e até algumas próximas ao centro.
Pioneiros nesses serviços, Francisco Anísio de Oliveira Paula – pai do famoso
humorista que lhe emprestou o nome – com sua empresa São José, e Oscar Pedreira,
que atendia aos bairros do Jacarecanga e o então Brasil Oiticica, hoje Carlito
Pamplona.
Avenida João Pessoa, à época conhecida como “Concreto da Porangaba”
Nessa época a Avenida João Pessoa, era popularmente
chamada de “concreto da Porangaba”, atual Parangaba, como viria a ser
denominado o então longínquo distrito da Capital. Aquela zona da cidade, que
atualmente engloba diversos e populosos bairros – jardim América, Montese,
Rodolfo Teófilo, Damas, Itaoca – possuía um nome comum: Barreiros.
chamada de “concreto da Porangaba”, atual Parangaba, como viria a ser
denominado o então longínquo distrito da Capital. Aquela zona da cidade, que
atualmente engloba diversos e populosos bairros – jardim América, Montese,
Rodolfo Teófilo, Damas, Itaoca – possuía um nome comum: Barreiros.
Por iniciativa de um de seus primeiros moradores, foi
criada a Associação dos Moradores dos Barreiros. Tal como indica o nome, Barreiros
era assim chamado devido ao solo da área, composto basicamente de um mineral de
coloração vermelha, ideal para uso na construção civil. Os exploradores cavavam
os barrancos em busca da importante matéria-prima.
criada a Associação dos Moradores dos Barreiros. Tal como indica o nome, Barreiros
era assim chamado devido ao solo da área, composto basicamente de um mineral de
coloração vermelha, ideal para uso na construção civil. Os exploradores cavavam
os barrancos em busca da importante matéria-prima.
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Avenida João Pessoa |
As residências situavam-se quase todas de um lado e de
outro da longa avenida, que nascia no Benfica – onde morriam os trilhos do
bonde – e se estendia em linha reta até a Parangaba. Ao longo dela, a medida
que brotavam novas moradias, iam-se abrindo os becos, embriões de futuras ruas.
Havia o Beco do Segundo, o Beco do Henrique Pereira, o Beco do Popó e daí por
diante.
outro da longa avenida, que nascia no Benfica – onde morriam os trilhos do
bonde – e se estendia em linha reta até a Parangaba. Ao longo dela, a medida
que brotavam novas moradias, iam-se abrindo os becos, embriões de futuras ruas.
Havia o Beco do Segundo, o Beco do Henrique Pereira, o Beco do Popó e daí por
diante.
Os nomes correspondiam aos bodegueiros da região. As bodegas, pequenas
mercearias, eram os pontos de abastecimento da população suburbana. Os
bodegueiros eram de primordial importância para as classes média e baixa, que
moravam afastadas do centro, onde estavam localizados os estabelecimentos
comerciais de maior porte, lojas, repartições, postos de saúde, farmácias,
mercearias de primeira ordem (a Joana D’arc era o máximo em requinte), e os armazéns
de gêneros alimentícios, situados em sua maioria nas Ruas Conde D’Eu e Governador
Sampaio. Uma das grandes diversões do Barreiros eram os animados jogos de
futebol no campo do Dom Bosco (hoje o lugar do campo abriga a Praça presidente
Roosevelt).
mercearias, eram os pontos de abastecimento da população suburbana. Os
bodegueiros eram de primordial importância para as classes média e baixa, que
moravam afastadas do centro, onde estavam localizados os estabelecimentos
comerciais de maior porte, lojas, repartições, postos de saúde, farmácias,
mercearias de primeira ordem (a Joana D’arc era o máximo em requinte), e os armazéns
de gêneros alimentícios, situados em sua maioria nas Ruas Conde D’Eu e Governador
Sampaio. Uma das grandes diversões do Barreiros eram os animados jogos de
futebol no campo do Dom Bosco (hoje o lugar do campo abriga a Praça presidente
Roosevelt).
Praça do Ferreira, bondes, ônibus e automóveis de aluguel
A Fortaleza dos anos 30 gravitava em torno da Praça do
Ferreira. Seus bairros não tinham autonomia, todos dependiam dos bodegueiros
para a obtenção de produtos essenciais ao dia a dia. Era também interessante a
reduzida capacidade aquisitiva da maior parte da população desses subúrbios, o
que acabou produzindo um instrumento fundamental a sobrevivência de muitos: a
caderneta.
Ferreira. Seus bairros não tinham autonomia, todos dependiam dos bodegueiros
para a obtenção de produtos essenciais ao dia a dia. Era também interessante a
reduzida capacidade aquisitiva da maior parte da população desses subúrbios, o
que acabou produzindo um instrumento fundamental a sobrevivência de muitos: a
caderneta.
Continha as anotações de compras no fiado para serem pagas no final
do mês. As bodegas também criavam uma grande facilidade em relação as
quantidades a serem adquiridas: as vendas a retalho. Assim, era possível
adquirir 200g de açúcar, meia barra de sabão, meio litro de gás (querosene para
a lamparina) pois grande parte das residências ainda não dispunham de luz
elétrica, tudo devidamente anotado nas cadernetas do fiado.
do mês. As bodegas também criavam uma grande facilidade em relação as
quantidades a serem adquiridas: as vendas a retalho. Assim, era possível
adquirir 200g de açúcar, meia barra de sabão, meio litro de gás (querosene para
a lamparina) pois grande parte das residências ainda não dispunham de luz
elétrica, tudo devidamente anotado nas cadernetas do fiado.
Avenida da Universidade, fim da linha do bonde do Benfica
Vizinho ao Barreiros ficava o Benfica e o seu
desdobramento, o Prado, servido pelos bondes da Light, ostentando ricos
bangalôs, autênticas mansões dentre as quais se destacava a esplendorosa
residência de José Gentil, onde presentemente está instalada a Reitoria da
universidade Federal do Ceará. Milionário, das raríssimas fortunas do Ceará
naquela fase histórica, José Gentil investiu na edificação de um novo bairro, a
Gentilândia, ainda hoje resistindo ao tempo, com suas mesmas casas pequenas,
construídas nas ruas próximas e no entorno da edificação principal, o palacete da família.
desdobramento, o Prado, servido pelos bondes da Light, ostentando ricos
bangalôs, autênticas mansões dentre as quais se destacava a esplendorosa
residência de José Gentil, onde presentemente está instalada a Reitoria da
universidade Federal do Ceará. Milionário, das raríssimas fortunas do Ceará
naquela fase histórica, José Gentil investiu na edificação de um novo bairro, a
Gentilândia, ainda hoje resistindo ao tempo, com suas mesmas casas pequenas,
construídas nas ruas próximas e no entorno da edificação principal, o palacete da família.
Rua dos Tabajaras, Praia de Iracema, com a Igreja de São Pedro
Os pontos elegantes de Fortaleza nos anos 30/40,
situavam-se na Praia de Iracema, em especial na Rua dos Tabajaras, servida por
sua linha de bondes, cujo ponto final era ao lado da Igreja de São Pedro. Na
Praia de Iracema viviam as famílias de maior poder econômico, a elite que
frequentava o Praia Clube, os serões artísticos boêmios do Jangada Clube, do
industrial Fernando Pinto, o restaurante afamado do espanhol Ramon, e mais a
frente, o Restaurante Lido, do francês Charles e o bar do Figueiredo, no qual
numa certa manhã de domingo, foi assassinado o playboy Vicente de Castro Neto.
situavam-se na Praia de Iracema, em especial na Rua dos Tabajaras, servida por
sua linha de bondes, cujo ponto final era ao lado da Igreja de São Pedro. Na
Praia de Iracema viviam as famílias de maior poder econômico, a elite que
frequentava o Praia Clube, os serões artísticos boêmios do Jangada Clube, do
industrial Fernando Pinto, o restaurante afamado do espanhol Ramon, e mais a
frente, o Restaurante Lido, do francês Charles e o bar do Figueiredo, no qual
numa certa manhã de domingo, foi assassinado o playboy Vicente de Castro Neto.
fonte: Bairros Modestos e sem autonomia, de Blanchard Girão
fotos IBGE e arquivo Nirez/publicação FortalezaemFotos
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Sempre muito bom ver suas publicações. Quando penso temeroso que não há mais o que postar você nos agracia com fotos e informações que nos fazem conhecer e entender melhor nossa Fortaleza. Parabéns pelo seu trabalho e pôr sua dedicação nestas realizações que muitas vezes não estão emolduradas pelos holofotes da mídia mas com certeza traz muito mais pasta cada um que, como eu, tem o privilégio de ter o acesso.
obrigada Umberto Nanni, enquanto houver leitores para apreciar nosso trabalho, estaremos por aqui com o maior prazer. abs
Queria ter nascido nessa época. Belo trabalho
Queria ter nascido nessa época. Belo trabalho
é uma época charmosa, né Tiago Freitas? obrigada pela visita
Belo blog
Belo blog
obrigada, Junior
Parabéns pelo trabalho. Sou um apreciador da Fortaleza Antiga.
Kelber.
Recentemente no Museu da Indústria havia uma exposição sobre os bondes de outrora. Já encerrada.
Oi você sabe dizer qual era a fonte de renda nessa época, já que tudo ficava muito distante.