×

 

Fortaleza é a cidade onde o
poder público não investe na recuperação de bens que precisam de manutenção ou
reparação. A filosofia é deixar se degradar até o ponto de não ter mais como
restaurar. Ai, acham a solução final. Abandonar ou mandar demolir. Não é uma
questão da mentalidade desse ou daquele gestor, é uma prática danosa
generalizada; é a cidade onde não existe nenhuma preocupação com a preservação de qualquer bem que possa vir a ser identificado com a formação da cidade. Conseguimos criar uma cidade sem memória, sem passado, sem história. Devido à condição de cidade moderna, não são toleradas estruturas ou edificações que lembrem seu hábitos ou usos passados. Primeiro passo é abandonar, fazer de conta que não existe.  Abandonados estão o Farol do Mucuripe, a Ponte
Metálica, a Ponte dos Ingleses, a Escola Jesus, Maria José, as Caixas d’água da
Praça Clóvis Beviláqua.    

Abandonada foi a velha
Ponte Metálica, primeiro porto de Fortaleza, equipamento que contribuiu
decisivamente para o crescimento da cidade, quando os exportadores de couro e algodão
aproveitaram a inauguração da estrada de ferro e passaram a embarcar seus produtos
pelo porto de Fortaleza, em detrimento dos portos de Aracati e Camocim, que até
então cumpriam esse papel.  Concluída em
1906, a ponte metálica foi o necessário porto de embarque de passageiros e
cargas até 1947, quando começou a ser gradativamente desativada, à medida que
entravam em operação os serviços do Porto do Mucuripe.


ponte%20metlica%201935 As Ruínas da Cidade

ponte%20metalica%20g1 As Ruínas da Cidade
Ponte Metálica em 1935 e atualmente (imagens UWM Libraries e G1)

Para justificar a falta de
investimentos no equipamento, deram-lhe o pomposo título de ruína histórica”,
que no caso, equivale a cercá-la com tapumes para evitar o acesso de incautos e
curiosos que insistiam em visitar o local. Em outros plagas, “ruínas
históricas” são atrações turísticas devidamente preservadas, que rendem grandes
recursos na medida que atraem visitantes. Viraram ruínas porque não existem
mais os materiais originais de suas construções, nessa situação, restaurá-las
significaria descaracterizá-las. No Brasil, por exemplo, uma das ruínas
históricas mais visitadas estão no Rio Grande Do Sul, as ruínas dos “Sete Povos
das Missões” cuja fundação pelos jesuítas remonta ao tempo das acirradas guerras
entre portugueses e espanhóis pela conquista das terras onde hoje se localiza o
Rio Grande; batalhas épicas, descritas na magnifica obra de Érico Verissimo “O
Tempo e o Vento”; ou as ruinas do “Castelo Garcia D’Ávila”, construção de 1551,  em Praia do Forte, na Bahia. São ruinas/monumentos
abertos à visitação, com acesso pago, aptos a contar uma parte importante dos
primórdios desses Estados. No Ceará, ruína histórica é sinônimo de abandono e
esquecimento.

Outros fadados ao
apagamento são o farol velho do Mucuripe, e a Ponte dos Ingleses. O farol teve suas
obras iniciadas em 1840, e concluídas em 1846.
Foi construído com mão-de-obra escrava, passou por inúmeras reformas e foi
desativado no fim da década de 1950. Por um breve período funcionou como sede do
museu do jangadeiro, mas o projeto não vingou e o equipamento desde então ficou
abandonado. Apesar do abandono, é tombado como patrimônio histórico do Ceará. 


ponte%20dos%20ingleses%202012 As Ruínas da Cidade

ponte%20dos%20ingles%20g1 As Ruínas da Cidade
Ponte dos Ingleses em 2012 e atualmente (imagens Fortaleza em Fotos e G1)


A
Ponte dos Ingleses seria originalmente o porto de Fortaleza em substituição a
Ponte Metálica, mas não chegou a ser concluída, portanto, não tinha uma função específica.
Passou anos sem nenhuma função. Mas caiu bem como equipamento turístico, quando
foi recuperada em 1994, como espaço de lazer. Virou point de encontro e de
contemplação da cidade. O mais interessante é que já foi anunciado reiteradas
vezes pelas mídias, que o poder público dispõe de recursos para recuperação de
ambos, tanto do farol quanto da ponte. Já houve até disputa entre gestores
municipais e estaduais para ver quem levava o privilégio de recuperar a Ponte
dos Ingleses. Até agora, nada.


pra%C3%A7a%20clovis%20bevilaqua%20caixas%20dagua As Ruínas da Cidade


caixas%20dagua.mapio As Ruínas da Cidade

     Caixas d’água da Praça Clóvis Beviláqua (imagens Arquivo Nirez e Mapio)                            

As Caixas d’água
localizadas na Praça Clóvis Beviláqua datam as duas mais antigas, de 1912, quando
da implantação do sistema de abastecimento de água. Os reservatórios armazenavam
as águas do açude Acarape do Meio. Ao lado está o pequeno edifício destinado ao
escritório da administração O terceiro reservatório é da década de 1960. Com o
crescimento de Fortaleza veio a necessidade de expandir o sistema de
distribuição de águas, tendo as caixas d’aguas do Benfica sido desativadas.
Hoje, tudo está abandonado: os reservatórios, o prédio da administração, as
grades que as cercam.


escola%20jesus%20maria%20jose%20pinterest As Ruínas da Cidade


escola%20jesus%20maria%20jose%20DN As Ruínas da Cidade
Escola Jesus Maria José, na inauguração e atualmente (fotos Pinterest e Diário do Nordeste)

Já o prédio da Escola Jesus
Maria José é um exemplar da arquitetura eclética tão em voga em fins do século
XIX e início do século XX. A construção foi iniciada em 1902, sendo inaugurado 1905,
numa iniciativa do bispo de Fortaleza Dom Joaquim José Vieira, para abrigar uma
escola para meninos pobres ou órfãos. Merece ser recuperado em reconhecimento
ao seu valor arquitetônico e histórico. 

publicação Fortaleza em Fotos/por Fátima Garcia 



Compartilhe com alguém

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Autor

mfgprodema@yahoo.com.br

Posts relacionados

Memórias do Mucuripe

  A Criação do Cemitério  É de bom tamanho/ nem largo nem fundo/  é a parte que te cabe/ neste latifúndio  (João...

Leia tudo

Um Cassino em Fortaleza. Quem conheceu?

  Os cassinos são ilegais no Brasil e considerados contravenção penal desde 1946, por decreto assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, que...

Leia tudo

Tipos de Rua da Fortaleza de Outrora

Na Fortaleza de antigamente sempre eram encontrados alguns tipos de ruas, pessoas geralmente desprovidas de recursos e cuidados, sem suporte familiar, alguns...

Leia tudo