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Não tinha muita lógica. A água não era boa, mas o pão era
excelente, elogiado por todos. Tão bom quanto os melhores do Brasil, diziam. No
entanto, o pão fabricado em Fortaleza perdeu a qualidade. Está longe de ser o
que foi, leve, saboroso e de bom aspecto. 

Padaria Ideal
padaria+ideal As Antigas Padarias
Inaugurada em 1925, a Padaria Ideal funcionou inicialmente na Rua Barão do Rio Branco. Depois foi vendida e mudou-se para a esquina da Rua Guilherme Rocha com a Avenida do Imperador. 

Não seriam muitas as padarias de Fortaleza nas duas
primeiras décadas deste século. Talvez não chegassem a uma dúzia, mas o pão era
de boa qualidade. Havia a Padaria Aveirense, a Palmeira,  a Industrial, a Fábrica Aliança – movida a
vapor e talvez por isso, a primeira a se designar fábrica – e a tradicional
Santo Antônio, de Emilio Sá, na Rua do Livramento (atual Clarindo de Queirós) ,
a única de propriedade de cearenses, pois as demais pertenciam a portugueses e
italianos.


Padaria Palmeira
padaria+palmeira As Antigas Padarias
A Padaria Palmeira funcionava na esquina das ruas Senador Pompeu com Guilherme Rocha, para onde mudou-se em 1923. Pertencia a firma Ferreira da Silva & filho. Além da panificação atuava também no ramo de torrefação com o Café Palmeira.
     
Em Parangaba havia a Padaria Natalense, de José Pedra,
crioulo forte simpático, que além do pão fabricava à tarde umas rosquinhas de
grande procura, principalmente nas festas de Bom Jesus, em dezembro.  Diziam que o segredo das rosquinhas vinha do
uso da água da lagoa vizinha. O fato é que nenhum outro estabelecimento de
Fortaleza chegou a imitar a deliciosa iguaria fabricada pelo Zé Pedra. 

Padaria Imperial
padaria+imperial As Antigas Padarias
A Padaria Imperial de Antônio Escudeiro de Almeida e José Antônio da Silva, foi fundada em 1923, na Avenida Visconde do Rio Branco. Em 1934 passou a pertencer ao grupo de M.Dias Branco.  


Nos velórios daqueles tempos era costume dos presentes irem
buscar na padaria mais próxima, de madrugada, os pães quentes para matar a fome
dos que “faziam o quarto”. Os mais afamados eram os pães sovados da Padaria de
Emilio Sá. Na Rua 24 de maio instalou-se na década de 1910 a padaria do
português José da Silva Bottas,  que pôs
o nome de Padaria Biju. A designação dava margem a comentários. Teria o
proprietário aportuguesado a palavra francesa ou usado apenas uma variante de
beiju? O certo é que os pães a Biju eram gostosos e as famílias freguesas
recebiam de brinde no Natal um bonito e enfeitado pão doce, especialmente fabricado
para a época. 

Padaria Lisbonense
padaria+lisbonense As Antigas Padarias
Em
1875 surgiu a fábrica de produtos alimentícios que deu origem à Padaria
e Confeitaria Lisbonense.  A Lisbonense foi fundada em março de 1916,
por Pelágio Rodrigues de Oliveira, José Teixeira de Abreu e Abílio
Rodrigues de Oliveira. Em 20 de abril de 1927, passou a funcionar na Rua
Pedro Borges, 151/57. Encerrou suas atividades em 10 de outubro de
1983, sob a acusação de estar poluindo o centro da cidade.


Também houve um tempo em que começou a aparecer a tarde o
chamado pão do chá. Eram pães especiais, vendidos em latas carregadas pelos padeiros
que o apregoavam – olha o pão do chá! – bem apresentados, ainda quentes e nos
baús de lata pintados de verde. As famílias ficavam à espera dos pães para o
café da merenda, que nunca era chá, que ninguém estava doente…
Os pães da tarde, fabricados com esmero por duas ou três
padarias eram de três tipos: o pão do chá, o pão suíço e o pão de leite. Também
havia o pão-baliza que dava margem a trocadilhos pitorescos.
Certa vez um desses entregadores de pão da tarde propiciou
uma cena tragicômica. Passou anunciando mais tarde do que no seu horário
habitual:
– pão de leite, suíço e doce.
Devido a meia língua do vendedor novato e o pregão fora de
hora, uma senhora entendeu que era o grito de um gazeteiro, anunciando que o “Padre
Leite suicidou-se”, e tratou de espalhar a noticia.
Quanto ao pão da manhã era entregue em domicilio pelos
padeiros que o conduziam ao ombro em grandes cestos de vime que arriavam e levantavam,
numa rápida e habilidosa operação. 

Padaria Americana
padaria+americana As Antigas Padarias
A Padaria Americana foi instalada na Rua General Sampaio, quando o proprietário João Otávio Vieira Filho, transferiu o estabelecimento de Aracati para Fortaleza em 1880. Foi a primeira fábrica de biscoitos e bolachas do Ceará.  


Mas nem só de pão viviam os cearenses da capital. Havia as bolachinhas
de manteiga, e de coco; havia ainda os pães-doces, pequenos ou artisticamente
desenhados;  e havia o já mencionado pão
sovado (Provença), de formato curioso a que Pedro Nava chamou de pão de
Provença, em forma de bundinhas e que se dividia separando as duas nádegas.
Curiosas eram também as bolachas fogosas, grandes, redondas
e grossas, um tanto maçudas, mas apreciadíssimas no café da manhã. Essas
bolachas não eram fabricadas regularmente 
embora tivessem muita procura. 

Todos esses produtos há muito deixaram de
ser fabricados em Fortaleza.  O que temos
nos dias atuais, é o manjado pãozinho com bromato:  grande, oco, seco, só casca, que se esfarela
ao ser tocado.


Extraído do
livro
Fortaleza de
ontem e anteontem, de Edigar de Alencar
      

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0 comentário

  1. Muitas padarias do passado de Fortaleza foram compreensivelmente omitidas neste importante trabalho de evocação da cidade. Eu próprio me lembro de algumas e de seus nomes, mas, não consigo recordar os de outras. Lembro-me da Padaria Confiança, que ficava na Avenida João Pessoa fazendo esquina com a atual Rua Ceará; lembro-me ainda de uma pequena padaria (cujo nome não lembro) que ficava à Rua Senador Pompeu "do lado do sol", entre a Rua Clarindo de Queiroz e a Rua Meton de Alencar; lembro-me da Padaria Duas Nações (afamada também pela comercialização de sua exclusiva "Bolacha Ceci") que ficava na esquina sudoeste da Rua Barão do Rio Branco com a Rua Castro e Silva (exatamente na casa onde no final do século XIX/começo do século XX viveu Dona Maria Tomásia, hoje, nome de rua); lembro-me ainda da Padaria Modelo que existiu, creio, até os anos 1980 (à Rua General Sampaio, lado do "sol", entre a Rua Castro e Silva e Rua Senador Alencar ou entre esta e a Rua São Paulo); ainda uma outra cujo nome não me recordo que ficava na Avenida do Imperador, no centro da cidade e que perdurou até há alguns anos atrás; também lembro a Panificadora Central, que ficava à esquina sudoeste da Avenida 13 de Maio e a Rua Floriano Peixoto (hoje ocupado o terreno pelo Habib's); sem esquecer que a Padaria Ideal da Praça da Lagoinha abriu, por um pequeno período, uma pequena filial (na realidade, só comercializava, não fabricava no local) na esquina sudoeste da Rua Senador Pompeu com a Galeria Professor Brandão; sem esquecer que, tanto a Fábrica Fortaleza de Manoel Dias Branco (Rua João Cordeiro, Meireles) e a Nebran (Rua Senador Pompeu, onde hoje se situa o FB Júnior) tinham "lojinhas" ao lado das fábricas para comercialização de seus produtos. Um detalhe: a Padaria Americana citada na matéria ficava mesmo era na então Avenida Visconde de Cauípe (hoje, Avenida da Universidade), no prédio que hoje tem o número 2257. Havia ainda, claro, outras pequenas padarias de bairro desconhecidas para mim… Citei as bairristas Padaria Confiança e Panificadora Central porque as frequentei, como cliente, por longos anos.

  2. Meu bisavô português da família Brilhante, veio morar em Fortaleza – CE, Brasil em torno de 1870 e colocou uma padaria na esquina da atual Av. Santos Dumont com a rua 25 de março. Próxima à Escola Normal, Colégio Imaculada, etc. Ainda não encontrei referência a essa padaria em nenhum estudo histórico sobre o assunto.
    Alguma dica?
    L.Vidal (datafonte@yahoo.com)
    14 de fevereiro de 2018

  3. E a padaria continental que ficava na pedro pereira com padre ibiapina, na jacarecanga. Alguem tem foto, hj la é uma sede de ensino.

  4. Sou aluna da universidade de Coimbra e estudo a panificação de Fortaleza. Gostaria de conversar com pessoas que tenham fotos ou saibam informações sobre o surgimento das mesmas. Podem ser familiares, ex-funcionários, clientes etc… meu contato é karol.olicost@gmail.com

  5. A padaria confiança foi o primeiro estabecimento comercial na cidade de Fortaleza a funcionar 24 horas, minha mãezinha trabalhou no local nas décadas de 70 e 80.

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mfgprodema@yahoo.com.br