A Praça do Ferreira foi por cerca de oito décadas, o palco principal da boemia
cearense. Depois a cidade foi se descentralizando e alguns bairros passaram a
oferecer opções de lazer para os amantes da bebida e da boa conversa.
sobre fatos políticos, ocorrências sociais, pendências testamentárias,
atividades culturais, fuxicos e mexericos da casa alheia, era só circular pelos
cafés, bares e livrarias da Praça. Os pontos principais eram:
A Maison Art-Nouveau, que funcionou entre 1907 e 1930,
localizada na esquina sudoeste da Rua Major Facundo com Guilherme Rocha (onde
hoje está o Edifício Granito). Lá podiam ser encontrados todos os dias os
jovens intelectuais Carlos Câmara, Ubatuba de Miranda, Renato Braga, Josaphat
Linhares e Edigar de Alencar. Este café foi destruído por um incêndio.
noroeste das mesmas Ruas Major Facundo e Guilherme Rocha, no local onde hoje
está o Excelsior Hotel. Seus proprietários eram o futuro maior exibidor
cinematográfico do Brasil, Luiz Severiano Ribeiro e o abolicionista Alfredo
Salgado.
esquina da Rua Major Facundo com Guilherme Rocha.Ocupava o andar térreo do sobrado onde nos pavimentos superiores se instalara, dias atrás, o Hotel Central.
Nesse recinto pontificava o gênio
livre de Quintino Cunha, sempre pronto a responder com inteligência e humor a
todas as provocações de adversários e admiradores. Certa vez, recebendo de seu
amigo Gomes de matos um par de chifres muito bem embrulhado numa caixa de
chapéu, no dia do seu aniversário, retribuiu com um ramalhete de flores. Gomes
ficou desconcertado e comentou: “ora Quintino, eu estou morto de vergonha. Te
mando um par de chifres e tu me cobres de flores?” – “É
fácil explicar, meu amigo Gomes” – retorquiu o arguto Quintino – “cada um dá o
que tem”.
preparavam os remédios. Em Fortaleza surgiram muitas fórmulas medicinais que
ficaram famosas e algumas delas ainda hoje estão em pleno uso, como o Elixir
Paregórico, as Gotas Artur de Carvalho, as Pílulas de matos e o Sabão Líquido
Asseptol. O boticário José Elói da Costa criou, nos anos 20, a pomada
Epidermina para tirar sardas da pele. O produto tinha um cheiro horroroso e, um
dia, um parente do inventor perguntou ao Quintino o que ele achava do remédio
que estava limpando de sardas e panos-pretos os rostos da cidade. Irreverente
como nunca, o poeta, pondo o dedo no nariz, satirizou de improviso:
fuummm!
da Costa
cheiro de bosta,
qualquer um.
para o José Elói, João Brígido mudou o nome de sua pomada para Epimerdina.
do Riche, mas a ele sobrevivendo por muitos anos, o Bar do Majestic , funcionando ao lado do
cinema do mesmo nome e fora inaugurado em 1917. Ali nos anos 30 e início dos
anos 40, atendia seo João, pitoresca figura de garçom que vivia atormentado com
os fiados dos boêmios. Chegava a sugerir, com muito jeito, que os mais velhacos
tomassem cachaça ao invés de cerveja, porque o prejuízo seria menor.
No térreo do
Palacete Ceará, um dos poucos prédios que sobreviveram à fúria dos vândalos,
funcionou a Rotisserie, restaurante frequentado pela alta sociedade, políticos,
desembargadores, altos comerciantes, e inclusive, o presidente do Estado. Nos
altos funcionava o Clube Iracema, onde se davam grandes festas, animadas pela
orquestra do maestro Antônio Moreira. Quando o clube se transferiu para outro
endereço, seu espaço ganhou divisórias e foi transformado em república de
estudantes. Muitos, que depois se tornariam conhecidos artistas e intelectuais,
moraram nessa república: Mário Barata, Antônio Bandeira, Aldemir Martins…
Confeitaria Glória, cujo proprietário era André Almeida, ficava nos baixos do
sobrado da Intendência Municipal, entre as ruas Floriano Peixoto e Major
Facundo. Funcionou de 1928 a 1937. Dentre os seus frequentadores, a escritora
Rachel de Queiroz, o poeta Jáder de Carvalho, o advogado Gomes de Matos, os
escritores Antônio Girão Barroso, Moreira Campos, Fran Martins e Murilo Mota.
Rachel de Queiroz lançou sua candidatura a Deputada Constituinte Estadual pelo
Partido Socialista Brasileiro. Apesar de já ser famoso no Brasil inteiro, não
recebeu os votos suficientes para sua eleição.
velho prédio da Intendência ficava o Café Emídio, dos gêmeos José e Estevão de
Castro. Eram homens elegantes e distintos, além de exímios pianistas.
Globo, de Edilberto Góis Ferreira, situado numa esquina da Praça, funcionou de
1937 a 1955. Em seu recinto sempre podiam ser encontrados os médicos Pedro
Sampaio, Carlos Ribeiro e Virgílio Aguiar; o Quintino Cunha, já velho, acompanhado
de seu sobrinho Renato Soldon; Romeu Martins e Tompson Bulcão, Raimundo Girão, Djacir
Menezes Avelar Rocha e o pessoal do Grupo Clã: Artur Eduardo Benevides, João
Clímaco Bezerra, e outros.
na Praça do Ferreira era um front na batalha das Coca-Colas contra o
preconceito. Ali elas tinham encontros com os soldados americanos. Quando a guerra acabou, o bar ficou sem clientes.
(arquivo Marciano Lopes)
À Turma do
Clã se atribui a terrível responsabilidade pela falência de muitos dos cafés da
Praça do Ferreira. Como eram todos “lisos” , ao ocuparem uma mesa, ficavam
pedindo cafezinhos e dizendo poemas. Mas cafezinhos não sustentam bares. Por receberem
a preferência desse grupo de inteligentes rapazes, cerraram as portas o Café do
Comércio (em sua 3ª. fase), a Confeitaria Cristal, o Botequim do Mundico e o
Café Éden.
No tempo da Segunda Guerra, quando Fortaleza se encheu de americanos,
o dólar passou a ser moeda corrente por aqui. O bar O Jangadeiro era um dos
pontos prediletos dos soldados yanques, sempre muito bem acompanhados das
deslumbradas meninas, as Coca-Colas, como foram apelidadas pelos rapazes
locais, desprezados por elas. O proprietário de O Jangadeiro, José Frota
Passos, entusiasmado com a grana dos gringos, passou a dizer que a freguesia
cearense não lhe interessava porque não tinham dinheiro. Depois da guerra, quando os americanos se
foram, deixaram além das desfrutadas e saudosas Coca-Colas, um vazio nas mesas
do restaurante do Sr. Frota Passos. Ele precisou usar muitas desculpas e
pedidos de perdão e até uma nota explicativa nos jornais para recuperar a
clientela perdida. Coisas da guerra.
livro de Juarez Leitão
estação de viver.
fotos do arquivo Nirez
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sou filho do
Renato SoldoN e bisneto de Quintino cunha, me diga a que vc tem do RenAto soldon e de SEUS BISAVOS. EU FAÇO PESQUISA GENEALOGICA E ESTA DIFICIL PESQUISA NO ARQUIVO,EU PROCURO O LOCAL ONDE ESTA O TUMULO DO BISAVO E DOCUMENTOS DE SESU PARENTES. O SEU BISAVO ERA FILHO DE UM UM ALEMAO QUE PELO RELATO TERIA SIDO MORTO NO PIAUI E O RENATO E O SEU BISAVO TERIAM MORADO EM UM CASARAO EM BATURITE E INDO APRA FORTALEZA
MEU EMAIL E SOELDON@HOTMAIL.COM