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Com a chegada a presidência do Brasil do marechal gaúcho Hermes da Fonseca (1910-1914), apoiado pelos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e pelo poderoso senador Pinheiro Machado, segmentos das classes médias urbanas e do exército, unidos a oligarquias dissidentes iniciaram um movimento para “moralizar” o país e “salvar” a república. 
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 Hermes Rodrigues da Fonseca – 8° Presidente do Brasil
Era a chamada “Política das Salvações”, a qual consistiu em revoltas armadas ocorridas em alguns estados visando à derrubada de oligarquias monolíticas governantes, substituindo-as por outras. A princípio Hermes da Fonseca e Pinheiro Machado apoiaram as “Salvações”, pois as insurreições aconteceram em estados de oligarquias opositoras, mas quando as revoltas começaram a surgir em estados de oligarquias aliadas de ambos, Hermes e Pinheiro começaram a combater o movimento. 
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Senador Pinheiro Machado 
A Política das Salvações foi um dos fatores que possibilitou a queda da oligarquia acciolina no Ceará.
Após mais de uma década de governo Accioly via com preocupação o crescimento das oposições e o descontentamento popular. Não seria prudente ele ou alguém da sua família tentar diretamente um novo mandato. O ideal seria obter um sucessor que lhe permitisse gerir o estado nos bastidores. 
Assim, para surpresa geral, indicou como candidato do seu partido, Domingos Carneiro Vasconcelos, velho desembargador de quase 80 anos. Domingos Carneiro deu uma entrevista em dezembro de 1911, agradecendo ao Partido Republicano Conservador a confiança em seu nome a afirmando que continuaria a política do venerando amigo Dr. Nogueira Accioly. 
Foi a gota d’água! A partir desse evento houve grande mobilização das oposições para lançar um candidato de prestigio e influência nacional, capaz de ter sua vitória reconhecida pelo governo federal e derrotar Accioly. Mas quem?
O nome ideal teria sido indicado pelo general Dantas Barreto, político ligado às “Salvações” e governante de Pernambuco. O general sugeriu a candidatura do tenente-coronel Marcos Franco Rabelo. 
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Franco Rabelo era militar de carreira, igualmente ligado a Política das Salvações, professor da Escola Militar do Rio de Janeiro e ausente do Ceará a quase 20 anos. 
Genro do General Clarindo de Queiroz, fora “enxotado” do estado com ele por ocasião do golpe de 1892, o qual teve entre os articuladores exatamente Nogueira Accioly.
 Mesmo sem ser conhecido pelo eleitorado cearense, o nome de Rabelo foi lançado como candidato ao governo num panfleto que circulou pela capital intitulado Ecce Homo.
A maioria da população acolheu com euforia o nome do tenente-coronel, logo considerado o salvador, a solução para todas as mazelas do Ceará. 
A campanha mobilizou os fortalezenses como poucas vezes na história do Ceará. 
As passeatas, mobilizações, e os discursos se sucederam no centro de Fortaleza sob o olhar intimidador da oligarquia. 
O mais curioso de tudo é que a campanha pró-Rabelo ocorria sem a presença do candidato, que só chegaria ao estado em março de 1912, após a queda do comendador. 
A 29 de dezembro de 1911, uma manifestação oposicionista promovida na Praça do Ferreira foi dissolvida pela cavalaria da policia, havendo troca de balas e um saldo de muitos feridos. Estava declarada oficialmente a guerra entre rabelistas e acciolistas. 
Em protesto a Associação Comercial decidiu pelo fechamento do comércio por uma semana, no que foi apoiada pela população, que chegou a apedrejar as casas comerciais que não aderiram a paralisação. Ao mesmo tempo, catraieiros e condutores de bondes entraram em greve, enfrentando a policia com paus, pedras e barricadas. 
O apoio silencioso e implícito dado pelo exército às manifestações da oposição, irritou o velho babaquara, como Accioly era chamado pelos adversários. 
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manifestação popular em apoio a candidatura Franco Rabelo (Arquivo NIREZ) 
Fortaleza era pura agitação. As acusações, os manifestos, as passeatas, os comícios e as provocações geravam um clima de euforia. Com o aumento da participação popular e com a cidade em pé de guerra, Accioly renunciou em 24 de janeiro de 1912. 
Era o fim de 16 anos de oligarquia. Não se sabe ao certo quantos morreram, mas ao final do levante foi feita uma contagem das vítimas junto ao cemitério de São João, à Santa Casa, à enfermaria militar e às farmácias, chegando-se a uma centena de mortos e feridos, excluindo-se os policiais assassinados por populares, que foram enterrados no quartel da polícia, no Parque da Liberdade e outros lugares.
Houve também divergências entre os lideres da revolta – muitos queriam liquidar Accyoli para evitar que ele tentasse recuperar o poder. 
Agapito dos Santos, um dos chefes dos insurretos, encontrou uma fórmula para garantir a vida do oligarca e familiares, impondo-lhe as seguintes condições: 
Accioly renunciava para sempre a qualquer tentativa de candidatar-se ou seus filhos para presidente do Estado; 
rejeitaria qualquer proposta do governo central no sentido de reintegrá-lo ao poder;  deixaria imediatamente o Palácio da Luz e se abrigaria no quartel da Inspetoria Militar do Ceará, aguardando o primeiro navio que o levasse para o Sul; 
deixaria como reféns, sob a tutela de um particular, os senhores José Accioly e Graco Cardoso. 
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Palácio da Luz, frente para a Rua Sena Madureira. Ao fundo a Praça General Tibúrcio. Foto de 1908 (Arquivo NIREZ)  
Accioly e familiares deixaram a sede governamental abraçados por alguns oficiais do exército e adversários políticos da oligarquia. 
No dia 25 de janeiro o babaquara embarcava para a capital do país. No percurso, em Natal, um incidente: a comitiva sofreu um atentado à bala, promovido por Antonio Clementino de Oliveira, ex-gerente do Jornal do Ceará, obrigado a deixar o estado em razão das perseguições da oligarquia. 
Accioly escapou, mas morreram um de seus filhos, Antonio Accioly Filho, e o agressor.
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após ser deposto, o presidente Accioly foge em um barco que o leva até o navio para o Rio de Janeiro (Arquivo NIREZ) 
A presidência interina do Ceará foi entregue ao vice, coronel Antonio Frederico de Carvalho Mota. Para concorrer com Rabelo, o Partido republicano retirou a candidatura do desembargador Carneiro Vasconcelos, e lançou o nome do general Bezerril Fontenele. Medida inócua, pois no pleito de 30 de janeiro de 1912, os rabelistas venceram com ampla maioria, sob acusações de fraudes.
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fachada da antiga Assembléia Provincial em 1911 (Arquivo NIREZ)
Encerrava-se, portanto, o período acciolino, mas não seu poderio. Este continuava através do apoio dos coronéis correligionários do interior, e no domínio da máquina eleitoreira.
 O próprio Franco Rabelo, para ter sua vitória reconhecida pela Assembléia Legislativa – uma exigência da época – foi obrigado a negociar com os acciolistas em troca de cargos públicos e dos nomes do primeiro e do terceiro vice-presidentes.  
        
Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias

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  2. Há um parágrafo no texto que se inicia por “Após mais de uma década (…).” Na frase que se segue consta “Não seria prudente ele ou alguém da sua família tentar diretamente um novo mandato”. Ora, em melhor português se deveria escrever: Não seria prudente que ele ou alguém da sua família tentasse diretamente um novo mandato.
    Babaquara: (de origem tupi – aquele que nada sabe), segundo o Dicionário Aurélio online; ainda naquele verbete se acrescenta: caipira, tolo; no Ceará: pessoa influente, poderosa.
    É possível que em 1912, quanto ao Nogueira Acioli, pessoas do povo o considerassem poderoso e influente, embora a significação mais reconhecida, nos tempos presentes, seja a de pessoa tola e/ou boba! Um babaquara!
    J. Cláudio B. de Menezes – e-mail: jc.deguaramiranga@gmail.com

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