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casa+borisA A Febre das Novidades
Casa Boris de Boris Frères e Cia. responsável pela publicação do Álbum de Vistas do Ceará-1908

Em 1908 um álbum com fotos de Fortaleza circulava pela
Cidade. Para gáudio dos agentes locais da modernização urbana, o livro
confeccionado em papel de luxo, trazia 160 estampas de tudo o que representava
o aformoseamento e o progresso da capital no começo do século XX: praças
recém-remodeladas, jardins públicos, ruas alinhadas com bondes, transeuntes,
sobrados e estabelecimentos comerciais; Passeio Público e Parque da Liberdade e
seus elegantes frequentadores; Estação Central Ferroviária, mansões e fachadas
art-nouveau, cafés, templos, escolas, porto, praias e lagos.


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Escritório da Estrada de Ferro Baturité

O Álbum de Vistas do Ceará, de 1908, editado pela Casa Boris
Frères e Cia, a mais poderosa das firmas estrangeiras no Ceará, e impresso na
França, significava formalmente uma homenagem à capital, um reconhecimento à
sua beleza e ao seu desenvolvimento. Confeccionado na Europa por uma consagrada
companhia francesa e distribuído em vários lugares, o Álbum não deixava de ter
um desejo de divulgação de uma cidade que era, na leitura capitalista, um
próspero mercado urbano. Considerando que a fotografia – devido a sua extraordinária
capacidade de informação, vale por mil palavras – nada como divulgar Fortaleza
através do elogio das imagens fotográficas. A ideia foi ainda mais feliz porque
veio à luz no momento em que a fotografia configurava-se como uma verdadeira
coqueluche na região, assim como no resto do Brasil.

rua+bar%C3%A3o+do+rio+branco+entre+liberato+barroso+e+guilherme+rocha+o+quarteir%C3%A3o+sucesso A Febre das Novidades
Rua Major Facundo 


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Paço Municipal


Desde o final do século XIX a Capital contava com alguns estúdios
fotográficos – Lopes Brandão e Reckly em 1872, o dinamarquês Niels Olsen, a
partir de 1895, Moura Quineau e M. Mello, de 1899 em diante.  
O Álbum sobre Fortaleza-1908, nesta linha, combinava duas
formas de sedução:  cidade, no auge de
sua formosura, e a fotografia, um dos mais fascinantes produto da era moderna. Para
uma sociedade urbana que então disseminava e incorporava valores como beleza, conforto,
trabalho e saúde, a fotografia caiu como uma luva para consagrar em imagens
duradouras, os melhores momentos da instauração de uma racionalidade urbana
assentada no culto do belo, forte e saudável.
Na virada do século XX, a partir de 1902 teve início a
remodelação das praças mais centrais, e em 1930, Fortaleza conheceu sua fase de
maior esplendor em termos de uniformidade urbana. Depois dos anos 30, a  Capital passou a crescer desordenadamente,
sem planos urbanísticos capazes de fornecer soluções racionais, mas com uma
voraz especulação imobiliária que lhe foi destruindo o harmonioso perfil
arquitetônico que ostentava anteriormente.

predio+do+liceu+do+ceara A Febre das Novidades
prédio do Liceu na Praça dos Voluntários


cafe+java1 A Febre das Novidades
Café Java, na Praça do Ferreira


A cidade hoje se encontra inchada, com a maioria do seu
patrimônio histórico destruído ou em estado de abandono, centenas de favelas e
conjuntos habitacionais, além de arranha-céus, fachadas e monumentos urbanos de
gosto duvidoso. No começo deste século, ao contrário, ela apresentava uma
feição arquitetônica urbanística que se equilibrava bem entre singela
arquitetura geral e deslumbrantes fachadas em algumas construções. As fotografias
da época e o próprio álbum fotográfico de 1908 reforçam essa constatação,
revelando um conjunto harmonioso em linhas e formas. As imagens insinuam que a
Capital do Ceará tinha um estilo inteiramente agradável à visão, composição
estética esta complementada pela predominância do uso de paletós, chapéus,
vestidos longos e sombrinhas, neles prevalecendo os tons claros compatíveis com
a intensa luminosidade solar, que banha a cidade o ano inteiro.



passeio+publico+inicio+da+major+facundo A Febre das Novidades
Passeio Público


A conformação estética que marcou a aparência de Fortaleza
foi sendo construída aos poucos, tornando-se mais visível na segunda metade do
século XIX, a partir do “boom” da exportação algodoeira em 1860. A partir dali,
a cidade conheceu um inédito crescimento econômico e social. A concentração e
acumulação de capitais em Fortaleza,  reforçou a constituição de grupos e
estrangeiros ligados aos negócios de exportação-importação, conferindo-lhe
grande poderio material e considerável prestígio político.

fotos do Álbum de Vistas do Ceará-1908
Arquivo Nirez
Extraído do
livro de Sebastião Rogério Ponte
Fortaleza
Belle Epoque – reformas urbanas e controle social – 1860-1930


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mfgprodema@yahoo.com.br

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