presença de muitos estrangeiros residindo na cidade, e a necessidade de lazer e
sociabilidade dos segmentos burgueses, concorreram para a criação, em 1868, de
duas inéditas entidades recreativas em Fortaleza: a Associação Comercial do Ceará (presidida pelo inglês
Richard Hugges) e o Clube Cearense, ambas compostas por estrangeiros e pela
elite cearense.
agremiação mundana da cidade, inclusive com sede própria e sócios. Mas um pouco
antes, em 1851, houvera um primeiro esboço nesse sentido: uma organização
chamada “Recreação Familiar Cearense”, fundada pelo engenheiro Caetano de
Gouveia, filho de rico comerciante e pelo Dr. Lourenço de Castro e Silva, um
dos primeiros médicos locais que retornaram à Fortaleza após se diplomarem nas
escolas de Medicina de Salvador e do Rio de janeiro.
Recém-formados e vindos de
centros mais adiantados, Gouveia e Castro e Silva implantaram o que os
abastados grupos emergentes da capital não tiveram o impulso mundano de
fazê-lo: a iniciativa de congregar, a partir de um centro irradiante, os
eventos festivos antes esparsos e acanhados na ingênua Fortaleza de então. O efeito desse desejo de fomentar um viver urbano
mais efetivo, foi exatamente, a criação
da Recreação Familiar Cearense, entidade destinada a reunir, uma vez por mês,
as famílias de Fortaleza.
atividades mundanas. A atitude, pouco comum ao círculo feminino fortalezense,
coube a Elisária Pereira, esposa do Dr. Gouveia, que assumiu a função de
secretária da Recreação Familiar.
lazer e sociabilidade urbana na acanhada capital cearense.
Entretanto, foi o
Clube Cearense, 17 anos depois, que melhor assumiu as características de um
verdadeiro clube recreativo, pois além de contar com sede própria (a partir de
1871) num grande prédio defronte à área verde onde surgiria em 1880, o
magnífico Passeio Público. Oferecia
festas suntuosas, novas danças, jogos lícitos, e atividades litero-culturais
para o seleto corpo de associados.
estrangeiros, o Clube Cearense logo se tornou famoso pelo fausto de seus salões
e pelo extremo requinte de suas programações recreativas. Seu elitismo
exclusivista, porém, vedava o acesso a
estranhos, mesmo que tivessem algum prestígio na cidade.
Acontecimentos constrangedores como a
expulsão de um guarda-livros que se achava sem convite em uma de suas festas e
a recusa de proposta para sócio de um funcionário da Alfândega, aumentaram o tom dos protestos contra a
agremiação. Os excluídos do Clube Cearense, que se formava à margem do mundo
aristocrático de então, era um ascendente grupo social médio-alto, constituído
por comerciários, despachantes e guarda-livros, muitos deles, já na década de
1870, participantes de atividades literárias e jornalísticas, e ativos
militantes abolicionistas.
Desse grupo de rejeitados pelo Clube Cearense, partiu a iniciativa
de se criar uma outra sociedade recreativa, que viabilizasse seus anseios por
diversão e cultura. Assim surgiu o Clube Iracema, em 1884 – ano da abolição da
escravidão no Ceará – nome inspirado no afamado romance de José de Alencar.
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