pintura de autoria do cearense José Irineu de Sousa. Retrata a
solenidade de libertação dos escravos de Fortaleza, no salão nobre da Assembleia Provincial.
O ano de 2014 assinala o 130° aniversário da Abolição da
escravatura no Ceará. No dia 25 de março
de 1884, diante de uma multidão que lotava a Praça Castro Carreira, em
Fortaleza, o então presidente da Província Sátiro de Oliveira Dias (21 de
agosto de 1883 – 31 de maio de 1884), anunciava que a província do Ceará não
possuía mais escravos. O evento que
ocorreu quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, deveu-se à luta e
ao empenho de alguns homens e mulheres, a exemplo de Francisco José do
Nascimento, o Dragão do Mar, o navegante negro, que se recusou a aceitar o tráfico de humanos nos
portos do Ceará.
a Junta da Fazenda Nacional. Ficava localizado na Rua Direita do Palácio do
Governo, em frente à igreja matriz, na Praça Caio Prado.
da Silva Guimarães o pioneirismo de um trabalho voltado para a causa
abolicionista. De tão ousado para a época, seu projeto de 22 de março de 1850
sequer constaria dos Anais do
Parlamento, tamanha a indignação causada à presidência da Assembleia Legislativa.
Mudadas as circunstâncias políticas, seu projeto voltava, com nova redação,
voltava à consideração do plenário, desta feita foi discutido, sem, no entanto,
lograr aprovação. As resoluções 1254 e
1134, de 1868 e 1870, respectivamente, não chegaram a promover a redução do cativeiro no Ceará,
mas serviram como registro de que os poderes públicos – legislativo e executivo
– estiveram unidos, em momento importante da história local, em dois projetos
de emancipação dos escravos, revelando-se sensível ao equacionamento do grande
problema social, o governo da província criava condições amplas e ilimitadas
para que se exercesse a filantropia das manumissões, vendo nascer com igual
aquiescência, as beneméritas sociedades que haveriam de mobilizar todas as forças
da sociedade em favor da abolição da escravatura no Ceará.
setembro de 1879 em homenagem declarada ao oitavo aniversário da Lei do Ventre
Livre. Congregavam-se em torno da iniciativa: José Correia do Amaral, José
Teodorico de Castro, Joaquim José de Oliveira Filho, Antônio Dias Martins
Junior, Antônio Cruz Saldanha, José Barros da Silva, Francisco Florêncio de
Araújo, Antônio Soares Teixeira Junior, Manoel Albano Filho e Alfredo Salgado. A
entidade se propunha a manter um fundo de emancipação, formado a partir de contribuições
de seus associados e mais um percentual dos lucros obtidos nas transações
mercantis. Mas em termos comparativos,
enquanto a Resolução 1254, em seu primeiro ano de execução possibilitava a
liberdade de cem crianças, a Sociedade Perseverança e Porvir comemorava seu
primeiro ano de fundação com a alforria de uma escrava de 10 anos. Acredita-se,
no entanto, que a Perseverança e Porvir tenha sensibilizado muito mais a opinião
pública com a alardeada alforria da negrinha de 10 anos, do que as 100 crianças
libertadas pelas comissões emancipadoras de 1869.
A anuência do poder oficial à campanha abolicionista ficava
implícita na sessão do plenário da Assembleia provincial para a solenidade de
instalação da Sociedade Cearense Libertadora no dia 8 de dezembro de 1880. Contando
com 225 subscrições, dizia sobre essa entidade um documento da época, que o
resultado não podia ser mais compensador, a libertação de três adultos: a escrava Filomena, de 23 anos com 3 filhos, a
cativa Joana, que sabia ler e escrever e um homem. Formada dentre outros nomes por Antônio
Bezerra, José do Amaral, Frederico Borges, Antônio Martins, José
Teodorico, José Marrocos e Isaac Amaral,
o seu estatuto foi ditado por João Cordeiro: art1° – um por todos e todos por um – único: a
sociedade libertará escravos por todos os meios ao seu alcance. Esse documento
foi assinado por todos os abolicionistas presentes e datado de 30 de janeiro de
1881.
Na euforia da campanha a ideia de um bazar de prendas vinha
atender a um dos objetivos das Sociedades Perseverança e Porvir e Cearense
Libertadora: angariar fundos para a
intensificação da campanha de compras de
cartas de alforria. O desembarque de servos africanos no território nacional
ficava proibido com lei de 7 de novembro de 1831, mais tarde reforçada pela Lei
581, de 4 de novembro de 1850, ao estabelecer, entre outras medidas de
repressão, que os escravos em trânsito nos portos brasileiros fossem
apreendidos e recambiados aos pontos de origem. Graças a essa forma de combate,
já em 1853, nenhum escravo tinha entrado no Brasil. Proibido o desembarque, a
ideia de Pedro Artur de Vasconcelos, deflagrada por José do Amaral, viria
fechar o ciclo da proibição com a célebre frase: “No porto do Ceará não se
embarca mais escravos”.
Contando com a solidariedade e a coragem cívica de homens
como Francisco José do Nascimento – o Dragão do Mar – os abolicionistas
conseguiram bloquear o mercado escravagista, feito através do porto de
Fortaleza, mantendo-se em greve os jangadeiros da capital nos dias 27, 30 e 31
de janeiro de 1881. Mas a história omite idêntica tomada de posição dos demais
ancoradouros do Ceará e menos ainda que as elites redencionistas hajam criado o
mesmo obstáculo nas fronteiras com as demais províncias do Nordeste, francas
opções de entrada e saída da mão-de-obra servil, ao ponto de ser mantido o equilíbrio
da população escrava nos últimos 12 anos no território cearense.
Contando finalmente com a presença de José do Patrocínio,
desembarcado em Fortaleza na manhã de 30 de novembro de 1882, nascia na chácara
de José do Amaral, no Benfica, uma sociedade abolicionista das distintas filhas
do Ceará. Durante a reunião social, foram dadas cartas de liberdade a seis
escravos, em homenagem ao acontecimento.
A 1° de janeiro de 1883, com a presença de José do
Patrocínio, Acarape, passou para a história do país como o primeiro núcleo
urbano a libertar seus escravos. A vila, por isso, mudou seu nome para
Redenção.
A 25 de março de 1884, no 60° aniversário da Constituição do
Império e no dia da Anunciação da Virgem Maria – realizou-se em Fortaleza, uma
grande festa para celebrar oficialmente
o fim da escravidão na província do Ceará.
Estima-se que existiam naquela data cerca de 16 mil
escravos. Após os fogos de artifício, gritos, lágrimas e tiros de canhão, a
multidão que compareceu à Praça castro Carrera (Praça da Estação), ouviu quando
o presidente da província, Sátiro de Oliveira Dias, concluiu seu discurso
anunciando que a província do Ceará não possuía mais escravos.
de F.S. Nascimento
fotos do Arquivo Nirez e do Acervo do blog
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Vai ter algum evento/programaçao especial hoje sobre isso?
não tenho essa informação, anônimo, soube de uma sessão na assembleia, que deve ter sido ontem. Não tomei conhecimento de nenhuma programação além dessa.
Parabéns pela postagem do pioneirismo cearense da Libertação dos escravos minha amiga Fátima Garcia. Como professor de História pude então enriquecer mais os meus conhecimentos sobre o assunto.
obrigada professor Petrônio Lima, volte sempre.
abs
Tenho orgulho, por, indiretamente, fazer parte dessa história, tendo tido dois tios -avós, Antônio Bezerra e Oliveira Paiva, como membros da Sociedade Cearense Libertadora, na luta pela abolição da escravatura.
Excelente e oportuna postagem!
Quem sabe pelo tamanho da confusão que faço por aqui, Pedro Pereira da S. Guimarães não seria além de conterrâneo, ancestral!!!
Sandro Barreto Guimarães
Jornalista MTE/CE 3040
Músico Profissional Saxofonista(OMB)
http://www.aracatiemfoco.com.br
Parabéns pela postagem que marca bem a histórica data de 25 de março
obrigada Sandro, conheço seu site, sempre dou uma passadinha por lá. abs
Legal. Abraço e boa sorte!
Falácia que precisa ser exterminada dos livros de história, branco só faz merda mesmo…